Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Três meses de Little Pineapple

por Pineapple com açúcar, em 16.05.16

O meu bébé já está com quase quatro meses e ainda não vim aqui falar dos grandes feitos dos seus três meses.

 

Posso dizer com conhecimento de causa que aos três meses dá-se um momento de viragem. Deixam de ser recém nascidos para passarem a ser bébés. Deixam de chorar aos guinchinhos e sempre no mesmo tom passando a ter variadissimos choros.

 

O choro de fome, o de cólica, o de sono, o do " tirem-me daqui que vocês estão me cegando", acompanhados com as variadissimas caretas.

 

O do beicinho, o do sem expressão que não percebes se está a chorar se está a rir ou se simplesmente está a falar com os seus colchetes, o dos olhos esbugalhados e vermelho que nem pimentão e por aí diante.

 

Aos três meses vês que ele tem uma forte predileção por ti.

 

Ri-se ao ouvir a tua voz, rasga-se em enormes sorrisos quando te vê, foca-te mesmo sendo estimulado por uma multidão, e tu... E tu que não passavas de mais um habitante à face da terra, de um ser que passava despercebido em todo o lado, de mais um, só mais uma pessoa neste tão enormérrimo mundo, passas a ser o centro da vida de uma outra criatura.

 

Nunca tive tanto medo de morrer, chega a ser assustador.

 

Antes não olhava com tanta atenção para os sinais que o meu corpo dava. Tudo haveria de passar e tudo era nada. " Ah, não deve ser nada!"

 

Agora, " estou com uma dor no queixo, já tiveste isso? Posso ver o teu? O que será isto?! Se calhar vou ao médico. Se calhar faço análises."

 

E pronto nasceu uma hipocondríaca dentro de mim, tudo porque tenho um medo avassalador, passando a ser o maior medo de sempre, medo de não estar presente para ele, medo que ele cresça sem uma mãe, medo que fique sózinho.

 

Agora percebo, da forma mais crua de como se sentem as mães de filhos deficientes, de filhos dependentes...

 

O que serão eles sem elas?!? Porque, infelizmente, (deveríamos ser eternos, hibernando de vez em quando para descansar) a lei da vida manda os pais embora mais cedo, quando temos, nós filhos, bagagem suficiente para nos desenrascarmos, eles não. Estão à mercê de uma sociedade que os mal trata...

 

Ai, que ponho-me a pensar nestas coisas e fico logo com o feriado estragado. Não fosse os festejos da pombinha do Mota Amaral e a carne assada que acabei de comer à borlix na Maia já estava aos prantos.

 

Passemos aos grandes feitos do pequeno Pineapple...

 

Estão preparados??

 

Vá sem dar "quebrante" nem mau olho...

 

O Little Pineapple já há um mês que dorme das 21:30/ 21:45 até às 8:45 e acorda porque o vamos acordar.

 

Dorme onze horas seguidinha. Onze!!

 

Pronto agora que me vim fazer de esperta, hoje vai acordar às 3, 4, 5 e 6 da manhã.

 

Antes de completar os três meses começou a dormir sozinho no seu quarto e porta-se lindamente. 

 

Por ser ainda tão pequenino, não estranhou nenhuma ausência... Dorme que se consola.

 

Decidimos implementar uma rotina rigorosa, fazendo com que tudo girasse à volta do menino, mas compensou. Tirando as noites de cólicas , que são raras, parece que engoliu um relógio Suíço.

 

Acorda com uma disposição que nem rei de um condado próspero, de um condado cheio de petróleo, disposição esta que vai decrescendo ao longo do dia. A partir das 18h mais coisa menos coisa apercebe-se que é rei de Portugal e fica infernizado, infernizando-nos a vida, que nem Troika a exigir um défice abaixo dos 3%.

 

 

Às 20h toma banho, a coisa compõe-se porque adora a água, o patinho, a piroca de fora. Volta a ficar rabugento quando o vestimos e as 20:45 está quase de joelhos a pedir por favor dêem-me de comer e põem-me na cama.

 

A minha teoria é que ele fica cansado do dia, de dias tão grandes. O dia para ele é tão grande que parece ter 72h. 

 

Ele dorme cerca de uma hora de manhã, duas à tarde e uns 20 a 30 min no final da tarde. E todas as vezes que acorda vê que ainda tem a mesma roupa, indicando-lhe, assim, que permanece no mesmo dia. Obviamente que o rapaz chateia-se.

 

 

"Humm ok, ainda com a mesma roupa, mantemo-nos no mesmo dia". Uma vez.

 

 

"Outra vez, continuo com a mesma roupa, ainda é o mesmo dia" Duas vezes.

 

"Já começo a largar um fedorzinho e a desgracada não me muda de roupa, já começo a ficar farto desta merda toda!!!!" Três vezes...

 

 

Aí damos banho, mas ele já pede por favor avancem no calendário que estou que nem posso.

 

A modos que o meu próximo projecto, será vestir-lhe uma roupa nova após cada sesta e gritar-lhe bom dia como se fosse a primeira vez... E depois passar o resto do dia a lavar, estender, dobrar e passar roupa. Tudo em prol da boa disposição do pequeno rei.

 

Cócó, é coisa que continua a não fazer todos os dias, mas já começa a encarreirar.

 

Ri-se muito, muito e já começa a dar pequenas gargalhadas.

 

Adora as suas mãos e troca os olhos para as ver bem de perto. Ele de olhos trocados apetece comer, dar dentadas de tão fofo que fica.

 

 

Baba-se muito muito muito, são babetes e babetes por dia. Anda sempre de mão na boca.

 

 

Tem unhas supersónicas, que crescem à velocidade da luz.

 

 

Adora andar de carro e de passear no seu carrinho.

 

Mama ainda nas mamocas da mãe, mas ainda não o é suficiente e acho que nunca vai ser, infelizmente. Mama de seguida um bom biberão de leite.

 

Este mês não o pesamos nem o medimos, mas podemos dizer à vontadinha, que tem mais de seis kilos e mais de 60 cm.

 

 

Continua, segundo, metade da população mundial, parecidissmo à mãe... Concluindo-se, assim, que é lindo de morrer... E mais não digo, se é que me faço entender.

 

image.jpg

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


O Verão está a chegar

por Pineapple com açúcar, em 14.05.16

O Verão está a chegar e o Pineapple já anda de pézinhos de fora...

 

Que dia lindo!!

 

image.jpg

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


O quarto do Little Pineapple

por Pineapple com açúcar, em 12.05.16

Uma das coisas que me deu muito prazer em fazer foi idealizar o quarto do bébé e decorá-lo.

 

Sempre gostei muito de decoração, de pequenos pormenores, de objectos com história, de significados e boas energias.

 

 

Uma divisão que seja agradável à vista acaba por nos dar uma sensação de bem estar, de nos transmitir boas energias...

 

Teu pai tem cabeça de tijolo e fazê-lo ver que nem tudo tem de ser super prático e funcional é uma trabalheira e mexe com o nervo da unha do pé esquerdo. No entanto, teu pai, é um ser domável, e lá vai cedendo. Por ele o quarto tinha um berço, trinta e dois aquecedores, tapete, armário cortinas e já está. O resto é para inglês ver e uma toliçada até porque a criança nem se apercebe...

 

Argumentos booooons e super válidos.

 

 No verão, nas magníficas festas da Nossa Senhora dos Anjos, ainda na altura em que achava que iria ter uma menina encontrei esta carroça e apaixonei-me. Quando perguntei o preço e o senhor disse-me que custava 5 euros disse logo, sem exitar, que levava. 5 euros, toda feita à mão... Até era pecado não comprar e não faltava sobrinhos para a oferecer.

 

Afinal a carroça foi mesmo para o Pineapple... Era rapaz. Teria de decorar um quarto para rapaz e já tinha uma carroça. 

 

Precisavamos de uma cómoda e depois de pesquisar o que havia no mercado apaixonei-me por esta que estava na casa da avó paterna.

A avó tinha a encontrado no lixo em pleno centro lisboeta. Recuperou-a e tornou-lhe nesta maravilha, perfeita para o pequenino.

O mote estava dado e agora era por mãos à obra e tornar o quarto o mais apetecível possível.

 

image.jpg

 

Tive e tenho a sorte de ter umas primas fantásticas que me emprestaram muito coisa, o berço foi uma delas  e é tão bom olhar para ele e saber que já foi do Afonso, da Carlota e agora do João Maria.

 

Eu gosto de saber que aquele objeto, que os objetos que me rodeiam tem história, têm histórias.

 

Mas, o objecto mais arrojado, o que eu fiz questão de ter e a maioria das pessoas torceu o nariz foi o tapete.

 

Até eu, depois de o comprar e já ele estava a caminho das ilhas pus-me a pensar que se calhar tinha sido demais para um quarto de bébé. Até que... Tcharan... Amei o resultado final!!

 

Depois foi alinhar com pequenos objectos que me ofereceram, que comprei e que eu mesmo os fiz. Foi o caso dos frascos com as tampas de animais. Vá, idealizei e mandei o homem fazer.

 

 

 

image.jpg

 

 

A luz na parede foi da madrinha que a tinha lá em casa. Ficou perfeita no quarto por ter uma luz suave e ser, de facto, muito bonita.

 

A rena de baloiço foi no Ikea e o saco de papel foi encomendado a uma papelaria chamada Inédita que (tem página no facebook) envia para os Açores todos os seus produtos. A Dália é a proprietária e é um amor de pessoa.  É ela própria que recebe os pedidos de encomendas e é a própria que os envia.

 

Tem produtos fantásticos e de vez em quando faz umas promoções que sempre que posso aproveito.

 

 

image.jpg

 

image.jpg

 

 

 

 A caixa de letras que eu ADORO, também foi na papelaria Inédita e o cadeirão, super vintage, foi herdado da bisavó. Mais um objecto carregadissimo de história que se pudesse falar contava-nos histórias até adormecermos.

 

 

image.jpg

 

image.jpg

 

Os sapatos foram do pai e é o pai que está na foto.

Os frascos estão agora com cotonetes e algodões e outras pequenas coisas que são necessárias termos à mão , como o corta unhas, termómetro e cremes para pequenas mazelas.

 

 

image.jpeg

image.jpeg

 

image.jpeg

 

Agora é um consolo lá estar e é aproveitar que daqui uns anos ele vai obrigar-me a decorar o quarto com colcha e cortinas  de macacada de aspecto horroroso com cores horrorosas.

Enquanto puder será à minha maneira.

Autoria e outros dados (tags, etc)


Largar Gadelha

por Pineapple com açúcar, em 09.05.16

Cá em casa andamos num descabelamento total.

 

É gadelha por todo o lado.

 

É a Fiji a largar pêlo e a deixá-lo no mais ínfimo espaço desta casa.

 

O pai anda a largar cabelo já há alguns anos, mas ultimamente é a desgraceira total.

 

A mãe tinha uma juba grande, cabelo era coisa que não lhe faltava até que a semana passada começou a cair aos kilos.

 

Já me tinham avisado.

 

A queda de cabelo pode começar por volta dos 3 meses após o nascimento do bébé e é o resultado das intensas alterações hormonais. 

 

Pois então as hormonas que venham varrer a casa de meia em meia hora porque ninguém aguenta e eu não sou escrava das misses hormonas.

 

Estas cabras das hormonas... Se eu as apanho, eu juro...

 

A minha cabeleireira também já me tinha avisado.

 

" Quando começar a cair vem falar comigo que dou-te umas ampolas"

 

Eu?!? Mal tomo uma aspirina ia tomar ampolas cientificamente mal provadas que é mais provável duplicarem-me os pelos nas pernas do que fazer crescer um cabelo na cabeça.

 

Ai, é fazermos de tudo para que nos caiam os pêlos do buço para baixo e tomar ampolas para fazer crescer os cabelos na cabeça!!

 

Imagino o nosso corpo a dar informações à nossa cabeça, ao mestre cérebro.

 

" Tá tudo doido, tá tudo doido, tá tudo doido.

 

Fazer crescer cabelos. Fazer cair "pintelhos". Fazer crescer cabelos. Fazer cair "pintelhos"."

 

Sejamos coerentes, se é para cair que caísse tudo!! A mãe natureza às vezes é bem chatinha... Eta mulher complicada.

 

O Little Pineapple também está a perder a sua penugem. E disse-lhe:

 

" Tu também?!

 

Não basta o teu pai, a tua mãe e a Fiji a largar gadelha?! 

 

Também a ficar careca?!"

 

O "mê fio" é muito sensível, muito especial. 

 

Ficou ofendido com o que eu disse e quando o fui buscar ao berço, apareceu-me assim...

 

 

image.jpeg

 

De cabeleira farta...

 

Ai amor, não era preciso.

É dos carecas que elas gostam mais... E ficas tão lindo careca.

 

Foi da lua, não foi? 

 

E eu só pensava " mais cabelo para varrer!!"

Autoria e outros dados (tags, etc)


O Nascimento

por Pineapple com açúcar, em 25.04.16

Quando me vieram ver já estava a amanhecer.

 

"Bom dia. Então como se sente?"

 

Eu estava bem, mas já começava a sentir novamente as contrações, nada que se compare com a dor de quando dei entrada, mas como o momento da expulsão já se encontrava próximo, achei por bem avisar que já começava a sentir o downstairs.

 

"Não tem problema, vamos já dar um reforço da epidural."

 

Entretanto, a enfermeira super mega querida, que apesar de não estar fisicamente bem disposta foi um amor connosco, veio ver a quantas andávamos nós.

 

"Muito bem, já estamos com 8 cm de dilatação, para um primeiro filho está a correr tudo muito bem."

 

Até poderia ser mentira, poderia estar a ter um trabalho de parto lento, estar nervosa etc etc, mas ao ouvir estas palavras uma pessoa relaxa, tranquiliza-se, não entra em stress, em estados de ansiedade desmesurados e facilita-lhes o trabalho. 

 

Ainda por cima sentia que estava com sorte na equipa que me estava a atender. Via-se que tinham todos uma boa noite de sono em cima e um bom pequeno almoço na barriga.

 

Estavam bem dispostas, alegres e prestáveis e nem me lembro se tinham "suera" vestida ou não.

 

" Já conseguimos ver a cabecinha e lá para as oito e meia o João Maria já está cá fora."

 

Que bom, já estava quase.

 

De um momento para o outro o meu corpo começou a tremer desmesuradamente e não era frio porque estava com uns calores pelo corpo todo.

 

O pai que já tinha entrado em modo nervo miúdo dizia-me:

 

" Pára de tremer!!"

 

 "Achas mesmo que neste momento tenho controlo em alguma

coisa?!? 

 

Achas que eu ando a tremer só porque me apetece, à laia de peta?? 

 

Olha eu a tremer... Mentiraaaa, não estou. Oh eu a tremer outra vez. Ahaha, apanhado, não estou. Oh outra vez...brincadeirinha, não estou.

 

Não levas um beliscão aqui mesmo porque estou a reservar as minhas energias todas para o nascimento da criança, entendes??

 

Faz um esforço para não me enervares, vá lá. Pronto dá cá um beijinho, vá."

 

Estava na hora!! 

 

Lá para as 10 da manhã já deveria conhecer o meu bébé e a minha vida nunca mais seria igual.

 

Lembro-me que quando saí de casa parei por breves segundos à porta e ao olhar para ela pensei que a próxima vez que entrasse em casa teria um bébé nos braços e uma vida totalmente nova.

 

Lá fomos nós para a sala de partos. 

 

Para além dos tremores e da vontade de lançar o Gregory, estava bem, calma e a achar que o pior tinha passado, tudo porque as minhas amigas que tinham tido bébés um mês antes tinham dito que fizeram duas ou três forcinhas e pronto nasceram as crianças.

 

Comigo não haveria de ser muito diferente. Mas, foi.

 

Tudo a postos, duas enfermeiras, uma auxiliar, uma médica interna, um médico de óculos sentado, um pai com uma máquina fotográfica, uma go pro, um iPhone e uma carrada de nervos miudinhos. Esta é a imagem que tenho, não sei se é a verdadeira, mas é a que tenho.

 

 A enfermeira parteira pediu para fazer força. 

 

" Sim senhora." 

 

Fiz uma, fiz duas, fiz três...

 

" Não querida, mais força."

 

Mais???

 

Mais uma, mais duas, mais três.

 

" Querida, assim não chega. Não sente vontade de fazer força?"

 

" Não. Não sinto nada..."

 

E eu a fazer foooooooooorça sem sentir naaaaaaaada. Mais fooooooooorça sem continuar a sentir naaaaaada. Até que comecei a ver umas luzes brancas, tipo flashes.

 

 

Oh, luzes, sanefas de natal, gingó bells gingó bells.

 

Espera, acho que não é suposto ver isso e muito menos sentir uns formigueiros na cabeça.

 

"Senhoooora acho que vou desmaiar."

 

" Querida, é normal é normal, vá faça força. Tem de ser agora ou nunca." Em tom de "isto não é brincadeira".

 

A parteira pediu à outra enfermeira que desse uma ajuda. Ora a ajuda era nada mais nada menos que utilizar o peso do seu corpo sobre a minha barriga fazendo com que a criança descesse.

 

Não é pêra doce não, aliás é grotesco e nao estava a conseguir consentir aquela força toda em cima de mim. Só lhe pedia que parasse.

 

A sensação que tive foi que de um momento para o outro as expressões de toda a gente que estava na sala tinham-se alterado para " hi, isso tá lindo aqui. Belo trabalho tá aqui feito."

 

Foi aqui que eu pensei  "Ai, que é agora que me fino. Eu ou o rapaz ou os dois passamos desta para melhor." 

 

E pronto, veio uma força não sei de onde e ele nasceu.

 

Finalmente conheci-o, finalmente!!

 

Qualquer expectativa, qualquer pensamento, desejo ou sonho foi imediatamente superado.

 

Tudo o que não senti na gravidez senti naquele momento, no momento em que o puseram em cima de mim.

 

Apaixonei-me mil vezes num segundo.

 

Senti uma empatia imediata, uma vontade de o abraçar e nunca mais o largar.

 

Não conseguia acreditar que ele tinha estado na minha barriga durante 9 meses.

 

Nasceu com uns olhos enormes, com umas olheiras enormes e ficou a olhar para mim muito atento e calmo. Parecia que estava a ser avaliada, que me estudava os traços. Nem sei se conseguem ver alguma coisa, mas ele ficou ali quieto de olho muito arregalado a fazer beicinho.

 

Que momento!!!

 

Mais tarde senti uma culpa enorme por não ter gostado se estar grávida.

 

Como é que era possível não gostar de ter uma coisa tão mega maravilhosa dentro de mim, como?

 

Sentia uma culpa avassaladora porque não havia lugar mais seguro no mundo do que a minha barriga.

 

Agora havia um mundo todo a absorvê-lo um mundo onde eu não iria conseguir protegê-lo a cem por cento.

 

Ele já não era meu, era do mundo.

 

Que culpa... Ainda hoje quando penso nisso vêm me as lágrimas aos olhos.

 

Parei de tremer mas não consegui evitar o Gregory... Ups, desculpem senhoras, mas acho que não estava muito bem disposta. Ai muito se passa para se ter um filho.

 

O pai?

 

Tinha a certeza que o pai estava do meu lado esquerdo no momento da expulsão. Mas, quando olhei já não estava.

 

Olhei para todos na sala e estavam todos com ar calmo e sereno o que me fez depreender que o homem tinha simplesmente desaparecido e não ter dado um piripaque que o fizesse cair inanimado no chão.

 

Eu só pensei, " ai que pelintra, o rapaz nem 5 min de vida tem e já me desapareceu. Num instante foi comprar tabaco para nunca mais voltar."

 

Em menos de um minuto apareceu-me ele com duas bolas vermelhas no lugar dos olhos.

 

"Então homem onde estavas?"

 

"Fui ali para aquele canto chorar. Isto é muita emoção, é surreal. Eu preciso de ir lá  fora chorar o resto. Tenho muita coisa para por para fora."

 

Que pai fofo!!

 

 

Levaram o Little Pineapple para se vestir, pesar e medir.

 

 

Neste arraial todo em que estava anestesiada com tanta alegria, completamente alienada do que me rodeava, concentrada nele, naquela nica de gente, não dei conta que quem andava a terminar o serviço era a interna. 

 

Quando "botei" sentido é que ouvi a parteira a dar indicações de faz assim, faz assado. 

 

Levaram-me meia hora para quatro pontinhos, não senti rigorosamente nada. Nada.

 

Mas quando olhei para o relógio e vi o tempo a passar deduzi que me estivessem a fazer um tapete de arraiolos lá em baixo. Nem pensar que ia para exposição!!

 

De seguida oiço a auxiliar:

 

"Menina faltam os sapatinhos."

 

"Sapatinhos?"

 

"Sim, os sapatinhos para pôr por cima do fatinho, aqueles de lã. Não me diga que não trouxe os sapatinhos?!"

 

Sapatos, mas o rapaz não anda!! Tá lindo, o rapaz nem uma hora de vida tem e eu já ando a pôr o pé na argola.

 

" Ahhh os sapatos!! Ai com as pressas esqueci-me deles em casa."

 

Mentira... 

 

E pronto lá estava eu com um filho nos braços sem sapatos, mas super feliz. Tinha tudo corrido bem e ele estava cheio de saúde.

 

Que alegria, que alegria!!!

 

 

 

image.jpg

image.jpg

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


Parto #2

por Pineapple com açúcar, em 17.04.16

Era oficial estava, realmente, em trabalho de parto.  

 

Não era invenção minha.

 

 

image.jpg

 

 

 A senhora da "suera" indicou-me o quarto onde iria passar as passinhas do Algarve. 

 

Perguntei-lhe quando poderia levar a epidural e disse-me que era de imediato... Ahhh graças a Deus!!

 

Disseram-me muitas vezes que depois da epidural tudo seria mais fácil, acreditei, mas nunca pensei que fosse tão eficaz.

 

Lá veio a senhora da "pendural", uma senhora muito calada sem grandes expressões.

 

Eu também às duas da manhã não tenho grande expressão, mas perante a desgraça alheia ainda me comovo um bocadinho. 

 

A senhora da "suera" disse-me que ao levar a epidural não me poderia mexer de forma alguma. Nada, nada, nada. 

 

" Sim senhora." Disse eu com olhinhos de cãozinho abandonado. 

 

"Ok, senhora eu tou a ter uma contração, podemos esperar só um bocadinho?"

 

"Não querida, temos de nos despachar."

 

Ahhhh desgraçadas, demónios, vocês querem me por doidinha. Apetecia-me desmontar o cabo do soro e dar-lhe pelas pernas dizendo em tom compassado, eu-nao-tenho-a-culpa-do-rapaz-querer-nascer-às-tantas-da-manhãaaaa- Des-gra-ça-da (sempre a levar com o cabo).

 

É qualquer coisa como, olha, vou dar-te um pontapézinho na tomateira, mas não poderás mover uma palha. Isto para os senhores entenderem. 

 

Ou então, olha vamos passar com esta "contrapilha" (caterpillar) pelos pés mas não te podes mover.

 

Se calhar há uma explicação científica para as palavras de ordem desta noite serem " temos de nos despachar", mas não me explicaram qual era, por isso assumo que seja despachar só por despachar e também não era porque o rapaz estava quase a nascer, nem porque o serviço estava a abarrotar.

 

Eu, uma pobre de Cristo, só me concentrava nas benditas respirações que aprendi nas aulas de preparação para o parto e que exemplifiquei à minha colega e amiga de aulas mais tarde. Ao que ela respondeu-me com:

 

"Estas respirações não existem."

 

"Existem, existem, eu fiz" ( em tom de, Ah descarada!!)

 

 "Querida elas podem existir mas não foram estas que aprendemos."

 

Nunca atino nada, nunca dou uma pá caixa, louvado seja Deus. Paguei 300 euros para um curso onde se ensina a respirar e chega a hora H invento respirações, que por acaso foram mega eficazes. Pelo menos para o meu cérebro de minhoca foram.

 

Em relação ao curso, foram os 300 euros mais bem empregues, elas não têm a culpa de eu ter cérebro de minhoca, foram todas uns amores e muito muito prestáveis.

 

Agradeço toda a paciência e preocupação demonstrada.

 

O bom foi que entre o dar e o não dar, a contração passou e levei no intervalo da mesma.

 

A partir daí foi nosso senhor no céu e epidural na terra.

 

Foi tão bom tão bom que estive quase a chamar o rapaz de João Epidural em vez de João Maria. Quase quase...

 

Adormeci e só acordava com o pai a queixar-se.

 

Ora era porque tinha frio, ora porque tinha sono, ora porque tinha dor de costas...

Verdade seja dita, não custava nada meterem uma poltronazinha e uma mantinha para quem estivesse a acompanhar. É que não há nada. Uma cadeira e that's it.

 

A senhora da "suera temos de nos despachar" disse que a evolução do parto seria mais ou menos um centímetro por hora, logo iria ficar umas boas horitas até ele nascer. E sofrer o pai da criança até à hora H seria uma praga.

 

Perguntei à "suera temos de nos despachar" se o pai podia ir para casa e voltar de manhã.

 

" De manhã quando?"

 

" Tipo às 7, nós moramos aqui perto e qualquer coisa ele põe-se aqui"

 

" Às 7 não!! Se quiser sair depois só entra lá para as 9."

 

" oh mas ele pode nascer antes disso, não pode?" Perguntou o pai aflito.

 

"Pode."

 

E eu nesta altura devia ter me levantado desmontado os cabos do soro e outra vez pelas pernas a baixo, sempre no mesmo lado a dizer "laparoza-maldita-quem-é-que-o-vai-sofrer-toda-a-noite-logo-agora-que-estou-entregue-às -drogas."

 

Claro que ele não se arriscou a sair, se bem que insisti bastante alegando que ninguém o ia impedir de entrar. Mas ele nem pensar que nos deixou.

 

Ainda hoje aquela criatura olha para esta noite e acha que o grande mártir foi sem sombra de dúvida, ele. Tudo porque adormeci e ressonei por breves momentos, momentos estes que ele fez questão de os registar, filmando. E pronto, esta foi a noite em que eu adormeci estirada numa maca (apoteose do conforto) enquanto que ele passou a noite em claro numa cadeira de madeira em pleno mês de inverno. Trabalho de parto... O que é isso??

 

A senhora "da suera temos de nos despachar" desapareceu para nunca mais voltar.

 

Saliento que apesar de tudo a senhora foi sempre muito profissional, pouco afável mas muito profissional.

 

Mudança de turno e que mudança... Estão a ver o genérico dos Simpsons, a parte em que diz The Siiiiimpsons e aparece as nuvens e o sol a brilhar?? Foi assim com o novo turno.

( continua)

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


O parto

por Pineapple com açúcar, em 14.04.16

Antes que recalque tudo, tenho de vos contar de como foi este maravilhoso acto de dar à luz.

 

Eu estava com umas cagunfas que nem vos conto, até porque as grávidas que conhecia já tinham todas os seus bébés nos braços, e eu era a única a ter pesadelos em fazer sair um ser de dentro de mim. Eu tinha, eu tive, um ser dentro de mim. Como é que isso é possível, como?!?

 

Das mil e uma discrições de partos e acreditem foram muitas, nenhum foi igual ao meu.

 

 

Há qualquer coisa neste dia que faz com que as mulheres mal apanham uma em vias de dar à luz, desbobinam, desbobinam, desbobinam todos os pormenores do seu dia de parto. Aliás, eu consigo me lembrar de mais detalhes de alguns partos de conhecidas minhas, por ouvir mil e quinhentas vezes, do que do meu.

 

Li a algures que as mulheres têm uma grande necessidade de falar sobre isso por ser uma experiência traumática e que o desbobinar é de certa forma uma terapia.

 

Falaram-me tanta vez no rolhão mucoso e no rompimento das águas que fiquei a espera deles para poder ir para o hospital...Nada disso.

 

O dia foi um dia estranho, dormi à tarde e sentia-me abatida e com umas dores um pouco estranhas, pensava que deveria estar a desenvolver alguma infecção urinária. 

 

Já estava de 38 semanas, mas não conseguia associar aquela indisposição ao trabalho de parto.

 

Acordei da minha sesta e de um momento para o outro comecei a sentir umas dores que pareciam cólicas, fiquei ainda a tentar decifrar se aquilo eram as famosas contrações até que... Mother fucker, son of a bitch, puta kio pari, Oh god... Esta merda dói. 

 

Desde que as senti de forma suave até à agressividade da coisa, deu tempo de tomar banho, vestir pijamas, pensava que ainda ia dar para dormir qualquer coisinha, preparar a mala com as últimas coisitas... E ainda deu para tirar umas últimas fotos de barrigona.

 

image.jpg

 

 

 

Até que de um momento para o outro as contrações estavam exactamente cronometradas de dez em dez minutos. 

 

Quando disse que achava que estava a ter contrações o pai da criança já estava de pijamas deitado no sofá e disse:

 

" A sério?!? Eishh logo hoje que não dava jeito nenhum."

 

E eu disse:

 

"Oh homem não seja por isso, acho que tenho aqui o contacto da senhora Contração, que é 91 e tudo, ligo-lhe a dizer que aconteceu um imprevisto, que hoje não dava lá muito jeito. Mando beijinhos para a família e tudo."

 

O caso mudou de figura quando o pai viu que aquilo estava mesmo mesmo acontecer e quando passei a ter as contrações de cinco em cinco, já gritava para me despachar como se conseguisses tornar-te numa Rosa Mota com aquelas putas dores.

 

O meu medo era chegar ao hospital e não ter tempo para levar a "pendural". Não faço parte daquela quota de mulheres que querem o parto mais natural possível. Eu queria as drogas todas a que eu tinha direito e se pudesse tinha adquirido mesmo as ilícitas.

 

 

image.jpg

 

 

 

Cheguei ao hospital à uma da manhã. Não estava a pensar em nada, em papéis, documentos, nada. Estava concentrada em controlar as putas dores, em fazer as famosas respirações. 

 

O pai foi impedido de entrar.

 

Quando entrei, estava tudo às escuras e vi ao fundo uma senhora de casaco de malha pelos ombros, a famosa "suéra" e as mãozinhas enroscadinhas com ar de quem saiu de um sofá quentinho, fazendo com a cabeça aquele acto de " Diga" sem esboçar uma palavra. 

 

Se eu estivesse mais sã, e a pensar como deve de ser tinha respondido.

 

"Wooo, eh mulher tudo bem?!?

Vinha saber se me queriam comprar umas rifas para ajudar o centro paroquial dos remédios. Acabou-se o Coração de Ouro e a Regra do Jogo e lembrei-me que vocês podiam estar à uma da manhã sem fazer nada no hospital!!!"

 

Mas, não, não consegui exercer esta chalaça é só disse:

 

 "Senhora, acho que estou em trabalho de parto." 

 

Com ar e em tom de, por favor, ajudem-me, estou nas vossas mãos e acho que vou passar desta para melhor nos próximos minutos.

 

Encaminhou-me para o quarto e preparou-me o CTG.

 

" Senhora pode esperar um bocadinho?? Estou a ter uma contração.

Não querida, temos de nos despachar."

 

Ah, ok, têm de se despachar para fazer aquela tarefa tão árdua chamada, fazer nenhum, visto estarem com o serviço a abarrotar. Sublinha-se que era a única no serviço, mas ela tinha de se despachar. 

 

Já estava com três centímetros. A senhora enfermeira disse para a outra que teria de ficar lá internada e eu só pensava:

 

O que?? Estavam a pensar em mandar-me embora, euuuuuu?!?!

 

É que nem de guindaste me tiravam dali com aquelas dores. Virava cachalote e fazia um arrojamento ali mesmo sem qualquer hipótese de me mandar embora.

 

( continua...)

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


Bom Domingo

por Pineapple com açúcar, em 10.04.16

Bom domingo pessoas.

Hoje estive a fazer motocross em tapete. Nananana naaaaa...

 

image.jpeg

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


"Nanão..."

por Pineapple com açúcar, em 08.04.16

Este é o meu filho quando vê maminhas na televisão.

 

 

É para mim, é para mim, é para mim...

 

E eu digo:

 

"Nanão" João Maria, não são tuas. Não podes ter as maminhas que quiseres, isto não é assim. Tens de te contentar com o que há... Aprende que não podes ter tudo o que vês. Ai, ai, ai...

 

E quando fores grande, praí, aos catorze anos vais para o OTL-J trabalhar para pagar umas maminhas à mamã.  Assenta aí nos planos para o futuro.

 

E o papá e a mamã já prometeram a Jesus que se a mamã e o papá ganharem o Euromilhões tu vais de romeiro. Também é para assentar.

 

Amor de país é uma coisa inexplicável. Um amor incondicional, que não espera nada em troca, nada materialista, puro. Aliás aos dezoito, se quiseres podes tatuar a frase " amor de pais". Podes assentar que a mamã deixa.

 

Temos imensos planos para ti meu filho e maminhas, sem ser as da mãe, é lá para os vinte e um. Assenta aí.

Autoria e outros dados (tags, etc)


Pelo olhar da Fiji

por Pineapple com açúcar, em 03.04.16

Cheguei primeiro cá a casa, faço menos chiqueiral do que ele, sou mais económica, aqueço os pés e não dou preocupações nenhumas, mas é a ele que lhe dão os melhores lugares para se deitar. Com mantas e almofadas gostosas.

Que descaramento. 

 

Ohh, qualquer dia eu pego nas minhas coisas e vou-me embora. 

 

Levo um saco de ração, um saco de areia e vou-me embora... 

 

Não vou?!  

 

 

 

 

 

image.jpg

 

 

Eu salto do quinto andar... Num instante!!!

 

Fiji... A gata ostracizada.

 

 

 

 

 

 

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.