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A maternidade abordada em tom humorístico, no meio do Atlântico, por um casal em que a experiência neste mesmo assunto é nula. O objectivo é relativizar o difícil e complicado e rir, rir muito...
Eu sou uma desnaturada, é um facto, mas têm de perceber que isto de ser mãe, mulher, profissional em topo de carreira numa empresa internacional cotada na bolsa, não é fácil.
Depois de me pedirem para descrever a festa de aniversário, mas de forma séria e real, o que tinha de ter feito era, descrever a festa de aniversário de forma real e séria, mas não, preferi adormecer morta de cansaço no sofá!
Como é que conseguem, pessoas que fazem mil coisas num dia, pessoas que fazem mil coisas numa hora?! Como?
O homem cá de casa diz que tenho uma forma muito peculiar de gerir o tempo, que é a chamada forma de não gerir tempo algum e confiar em Deus. “Jesus, conto contigo.” Digo eu, todas as manhãs sentada na cama, com os dedos indicadores apontados para o céu e num sotaque brasileiro, para parecer mais credível e eficaz.
Aqui vai, de forma séria (vou tentar).
Dia 28 de janeiro JM fez 2 aninhos, a festa foi em casa com família e amigos, notando-se a ausência de Jean Paul Gautlier e Karl Lagerfeld devido a afazeres profissionais.
Os animais foram o tema da festa, desde aos selvagens até aos da quinta e domésticos e estiveram espalhados pela casa em formato bricolage total.
Isto é que foi vasculhar aquele Pintrest e inspirar-me naquelas fotografias maravilhosas.
O Bolo foi, novamente, a minha maravilhosa prima da página, bolo quer, bem me quer, que para além de delicioso, reproduziu na perfeição o que pedi.
O menu da festa foi todo Vegan, polvo assado vegan, pernas de galinha vegan, entrecosto assado vegan.
No entanto, o mais cobiçado, para além dos queijos, foi a tarte de limão, o húmus, o guacamole, as sandes de queijo com manjericão e tomate e o bolo. O bolo!!
O bolo fez magia, houve quem falasse em sabores da sua infância e quem se babasse a comer. Também foi a primeira vez que o João Maria comeu bolo, pelo menos que eu saiba, que isto de não querer dar açúcar a um filho se assemelha, para alguns, ao pior castigo existente à face da terra. Um verdadeiro marco para ele.
As fotos que se seguem têm o dedo do tão maravilhoso Primeiro Amor. Quando virem que já estão a perder qualidade é porque a foto foi tirada por mim.
Foi um dia muito feliz em que ele transbordou alegria e isto é o que importa.
Que sejas sempre muito feliz meu doce Little Pineapple.
E chegaram os terrible two, que por enquanto de terrible não têm nada... sim é verdade que o rapaz tem energia para fornecer uma favela inteira no Brasil e que de vez em quando levo uma chapadona ou outra e que do “ João Maria, não se faz isto!!” sai como resposta umas gargalhadas, mas também não encaro isto como um problema, visto que, é nesta altura que o dobro todinho, arrumo-o na minha mini mala de ananás e de lá não sai até me pedir desculpa em sete línguas diferentes. Sou rigorosa na educação, porque se não, quando dermo-nos conta já estamos depositadas num lar de terceira idade ilegal, sem reforma e com a permanente por fazer.
De resto, “frizava” o tempo e ele ficava assim, com dois aninhos por mais uns três anos (no mínimo).
Estou deliciada com tanta doçura e fofura ao mesmo tempo!
A mamusca teve de preparar a sua festa de aniversário, algo intimista e minimalista ao mesmo tempo. Convidamos só os mais próximos o indispensável, 328 pessoas, vivemos num apartamento por isso esta lista tão minimalista.
Tenho de agradecer do fundo do coração aos amigos e família que mal me perguntaram, “queres que te ajude em alguma coisa?”, comecei logo a tratar da distribuição de tarefas e funções.
Para começar pus logo duas amigas vestidas de criadas a servir os martinis no Hall de entrada do prédio e como sei que elas são todas pela moda e pela sensualidade e porque tenho este defeito de ter um coração de ouro, não as enfiei numa farda de criada sensaborona à lei jová e sem formas, tive o cuidado de as comprar na melhor sex shop do país. Lindas que elas estavam, tudo retesadissimo, colados aos corpitxos de sereias que elas têm.
Coloquei outros dois amigos nos elevadores de serviço, para evitar aqueles momentos mortos e constrangedores em que não sabes onde estacionar a vista e, claro, para não perderem o fio à festa, com um número de mímica e coelhos a sair de uma cartola, maravilhoso. Outras duas na entrada de casa que nem bazar manteiga a entregar as senhas dos casacos e malas. Mais umas outras com a farda retesadissima de criadas a circularem de bandeja com os serve serve... e aos familiares que não puderam estar presentes pu-los via skype no quarto das crianças a cantar músicas infantis alusivas ao mundo animal, desde o “atirei o pau à gato” até ao “ é o bicho, é o bicho” e ao “ que tiro foi esse, veado!”
No que diz respeito à animação da festa tive três amigos que fizeram um número de dança contemporânea na cozinha... Uma coisa... que nem há palavras!!
Enfim, tudo muito simples!!
O tema deste ano foram os animais, e para não complicar muito, sempre na base do “pó simples”, falei com um conhecido meu para me mandar via aérea (tenho conhecimentos nos aviões) a coleção toda do museu de história natural de Londres. Metade foi arrumada na arrecadação do prédio, porque exageraram na remessa e os dinossauros ficaram desossados nos caixotes das cargas, não havia espaço. Ainda montei um Tiranossauro Rex no canto em cima e outro em baixo da rua, mas os restantes tiveram mesmo de ficar.
Foi um dia muito feliz e que apesar de ter sido uma festa “pó simplezinha “ a criança desfrutou como ninguém. Andou aos saltos a rejubilar de alegria.
Espero que os amigos e familiares que estiveram a ajudar nas tarefas desta tão humilde festa consigam estar presentes, visto que numa sondagem de festa do 3 aniversário para possíveis melhoramentos de performances, todos disserem que achavam que tinham compromissos na altura... espero que consigam cancelar os compromissos agendados, porque é sempre um prazer ter-vos por perto e eu sei que adoraram e que me adoram. Desculpem aqueles que os deixei sem tarefas, mas como puderam ver foi tudo muito “pó simplezinho” e não dava para todos.
O Little pineapple amou a sua festa, esteve sempre em modo “êxtase total”, como podem comprovar por esta imagem.
Bom dia gente, ainda andamos por aqui!!! Decidi dramatizar um bocadinho com a vida e fiz-lhe um ultimato. Disse-lhe: ou dás-me os dias com 48h ou então hiberno!! Ela respondeu: “ Deves pensar que és melhor do que os outros! Olha, vai ver se está a chover em Elvas...” “Ah grandessissíma cabra... a gozar com a seca no país!!” Respondi eu... Não gostei, não gostei da atitude de superioridade, não gostei. Peguei em mim, semicerrei os olhos e cuspi-lhe, caindo-me em cima, de imediato!! Hibernei, hibernei porque não concordo, não acho certo o que estão a fazer com a minha vida!!! Não concordo em levantar-me cedo, ainda de noite, deitar-me tarde e mesmo assim não ter tempo para nada. Não concordo em passar a maior parte do tempo em casa a pensar e a fazer comida. É urgente a moda do jejum intermitente ou jejum a todo o tempo. Isso é muito comer... Não concordo com a facilidade que a minha casa tem em tornar-se na feira da ladra, não concordo em ter máquinas de roupa para levar todos os dias e há dias em que são mais do que uma. Não concordo com o facto de a vida estar a tornar o meu bébé num rapaz cheio de personalidade que já opina em tudo, é política,é religião, é futebol, é comida é na vida pessoal da gata, é em tudo. Não concordo com o facto de estar sempre uma lástima e não ter aço para por um risco no olho nos dias de folga, não ponho hidratante imaginem lá se me dou ao trabalho de por risco e máscara. Sou só eu que tem um dia com 6 horas e as restantes são roubadas pela vida, ou há mais gente cega para esganar esta ladra de tempo?! Tudo para justificar a nossa ausência, ando neste processo litigioso com a vida que está sendo uma macaca comigo. Já vi que tenho esta batalha perdida e que tenho de contratar um assistente chamado “ organiza-te Rita que não és mais do que ninguém.” Entretanto, nesta longa ausência passamos um maravilhoso verão com praia e muito muito ar livre, fiz anos, fomos de férias para Menorca, o little pineapple já fala pelos cotovelos, tirou retratos na escola e eu esqueci-me do dia, atirou os únicos sapatos que o serviam pela sanita, já começamos com as lides do Natal e ele já imita o pai natal, oh oh oh... e eu não sei por onde começar... help! Se calhar vou a Elvas ver se está chovendo... Não sei se já perceberam que existe um tom eloquenteófrustrativo na minha dissertação?! Existe! Queria tanto fazer mais, muito mais, queria escrever mais e contar mais, mas a vida esta madrasta não me deixa. A verdade é que escrevo por prazer e se a coisa não rola, também não forço. Hoje rolou...
E qual é a primeira coisa que se faz quando se aterra num atol paradisíaco, com areia branca e mar azul turquesa maravilhoso? Qual é? Primeiro, come-se bacalhau de natas e depois, praaaaaiaaa!! A ganância é tanta que à primeira vista pode-se confundir com desespero total. Se a imagem fosse reproduzida numa sala de cinema mais próxima, seria qualquer coisa como: Uma ladeira, uma família, bem lá ao fundo, com um Little Pineapple a correr em câmara lenta com baldes, guarda sol, boias, piscinas insufláveis, toalhas, marrecos de plástico, lanches, águas e o Diabo aquático. Assim éramos nós ( no cinema exagera-se sempre). Eram 8 da matina e já estávamos de armas e bagagens em Horseshoe bay beach, uma praia maravilhosa ( todas elas são) com uma "secção" para crianças, uma baia protegida com uns rochedos, denominada como "family zone", areia branca, água transparente e morna e ninguém na praia... o paraíso. Em menos de cinco minutos vimos a praia a ser invadida por três jipes Land Rover e uma equipa de fotógrafos, cabeleireiro e as ditas estrelas da coisa, todos eles japoneses. Uma pessoa fica que nem uma burra a olhar para um palácio. Uma azáfama séria, o homem a vestir e a despir fatos de surf e bodyboard e o cabeleireiro a ajeitar a meia dúzia de "pintelhos" que a dita estrela tinha na cabeça. Imaginem lá um japonês de cabelo rapado, daquele à escovinha. Pronto, agora imaginem um cabeleireiro com um pente na mão a ajeitar o cabelo como quem ajeita um penteado de segunda comunhão. É um pouco de arder... oh homens de Cristo com tanta gadelha a gritar para ser ajeitada vais-me amanhar cabelos à escova que só sabem ficar hirtos e rijos. E eu ali tão perto... com as pontas secas, doidas para serem encaracoladas à laia de Gisele Bunchen. Andávamos nós a apreciar o espetáculo e a ver os terminos daquela gente quando, de um momento para o outro, num momento de pausa, olharam para o meu filho e... zás, tornaram-no na nova estrela infantil nipónica. Quando nos apercebemos o Little Pineapple já estava rodeado por máquinas e telemóveis. Ele com ar de WTF e nós com ar de WTF disfarçado. Houve um pedido deles com o olhar e um consentimento nosso com a cabeça e a partir daí começaram a fotografar com aquele ar tão característico deles, ar de quem fotografa a largada de uma bomba atómica, aquele frenesim robótico que faz com que pareçam de outra galáxia que não a nossa. Fotografavam e riam-se desmesuradamente sempre que o miúdo fazia qualquer coisa e o qualquer coisa era pestanejar. Inicialmente achei um bocado estranho, depois lembrei-me do amor fanático dos japoneses pelos desenhos animados e o Little Pineapple com aqueles olhos grandes bem se parecia com eles, com o Nobita do Doraemon, por exemplo. Até o cabeleireiro o veio contemplar com o seu pente de catar piolhos. As minhas antenas de "miúda que sempre quis ser capa de revista" puseram-se logo em sentinela e detectaram uma possível eclosão da estrela enclausurada em corpo de mãe de um Little Pineapple. Então, enquanto as objectivas apontavam para um ananás com cara de WTF eu passava por trás com passo de flamingo, devagar, devagarinho com o meu bikini novo e com a minha fita da moda na cabeça... e eles nada. Uma verdadeira estrela não desiste e mais uma vez na outra direção a passo de flamingo, com ar distraído e boca em formato de bico de pato lá ia eu cheia de fé que alguma objectiva me captasse. Nada. Até que eu disse: " ouhhh esse filho é mê, isso não é pa tirar retratos quando quiserim...", e atirei areia com os pés para cima dos japoneses todos. Moral da história, ficamos, eu e o pai a olhar para o espectáculo nipónico que nem dois desenhos animados babados pela sua cria. Rimo-nos muito e o restante dia foi a imitar os japoneses. Ele brincou na areia e fez a sua primeira entrada do ano em água salgada. Contido a entrar, não demonstrou grande entusiasmo na água que para ele parecia fria... (não estava, mas comparada com a da sua banheira). Mal sabíamos nós que iria transformar-se em Neptuno/Poseidon deus do mar. Apesar de já ter passado quase dois meses após a viagem, não desisto de contar as suas primeiras férias intercontinentais porque prometi a mim mesma que o iria fazer um álbum de viagem pormenorizado, daqueles com recortes e fotos e estas coisas todas. Os posts são fundamentais para este projecto. Sou tão preguiçosa... que desgosto!
Visto que o cabeleireiro foi um elemento importantíssimo neste post, sinto-me na obrigação de o identificar. É o de óculos e bigodinho.
Eu com a fita da moda na cabeça.
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A praia paradisíaca antes da evasão.
O descanso da mais recente estrela nipónica.
Hoje pela manhã tive o Diabo da tasmânia em casa. Para começar, assim logo pela fresca, horário em que ainda estás a esforçar-te para coordenar todos os membros existentes no teu corpo, aparece-me vindo do lixo com uma cápsula de café na boca. Ficamos muito satisfeitos com o facto de ele já saber ir por o lixo no lixo, no entanto, há sempre o outro lado da moeda, de vez em quando ele vai ao lixo retirar lixo, só porque sim. De seguida retirou da estante todos os livros técnicos do pai, criando o risco de haver um cataclismo cá em casa. Lá fui eu toda apressada arrumar os livros, com bastante mais pressa do que quando o vi de cápsula de café na boca. Foi à casa de banho e atirou o brinquedo para a sanita, não estando satisfeito atirou a bola à banheira, não estando satisfeito, tirou todo o frasco existente na berma da banheira para o fundo da banheira. Não estando satisfeito desenrolou um rolo de papel higiénico, mas aí já fui a tempo de evitar mais um desenrolamento completo. Entretanto, tirava-o da divisão e reduzia o cerco. Fui retirar a roupa da máquina e quando dei por mim já tinha umas três peças enfiadas por uma nesga de janela aberta, em que duas delas eram brancas que nem a cal e já jaziam no chão porco da varanda. Para arrematar decidiu testar os meus limites e mesmo vendo a cara mais feia de todos os tempos, porque eu já estava CEGA e MOUCA, uma mistura de Odete Santos, Maria Vieira e a bruxa da pequena sereia, ele achou que poderia derrubar as três cadeiras da cozinha. Peguei nas mãos dele e de forma firme gritei-lhe que não. Ele, parado com a cabeça baixa a olhar para mim, fazendo com que ficasse com pena, até que em câmara lenta, sempre a olhar para mim, atira a quarta cadeira com toda a força. Peguei-lhe nas mãos e de forma firme disse-lhe que não e que iria ficar de castigo. Pela primeira vez iria executar esta enorme tarefa que é mete-lo de castigo. Bolas não tinha tido tempo de pensar nos pormenores, mas a hora era aquela, não podia voltar atrás, o Diabo da tasmânia ia ficar de castigo. Enquanto pegava nele esbaforida lembrei-me que tinham-me dito, "tens de selecionar um canto da casa com uma almofada e é aquele canto que será o canto do castigo", olhei para os cantos da sala e não tinha nenhum disponível, não tinha tempo para elaborar um projeto e deixei-o em frente à estante. Ele lá sentadito a chorar, com aquelas lágrimas a rolarem pela cara a baixo e o meu coração a encolher, encolher, encolher, até que percebi que o tinha colocado em frente aos seus brinquedos, mesmo em frente à zona de brincar. Basicamente, o que eu quis dizer foi " visto que estás a ser um malcriado de primeira e que daqui a usares navalha no bolso, estraçalhando toda a gente, vai um piscar de olho, vou ter de te colocar de castigo. Estás a ouvir meu menino CASTIGO... vou por-te de castigo... a brincar, vá agora brinca para aprenderes!" Eu sentada de coração que nem uma uva passa a pensar: " sim senhora, que rica agente de autoridade me saíste, tu és um show de mãe, um espetáculo", nisto ele já estava de livros na mão e peças de Lego em riste. Deveria estar a pensar " Uahahah vou conquistar o mundo!" Até que o meu outro ser, aquele que vê sempre o copo meio cheio pensou: " ele vai para a creche, só o vês às 3 da tarde, também não podias deixar o miúdo ir neste estado. Para a próxima fazes melhor." Peguei nele e disse, " vá, pede desculpa à mamã e dá um abraço e beijo ( já o agarrando e afagando todas as dobras e banhocas existentes naquele mini corpo de diabo da tasmânia versus pequeno hitler versus pequeno Pineapple mais doce)", ao que ele responde com o ar mais doce de " i dont care, i love it... i dont care 🎵🎶" Siga rumo à delinquência...
Chegamos às Bermudas!
Ao chegar à nossa vez no controlo dos passaportes lá explicamos que vínhamos para a casa de família e que não sabíamos a morada. A senhora com ar calmo e com aspecto de quem nos ia mostrar a saída, coloca-nos numa sala de espera. Na parede encontrava-se um enorme mapa da Bermuda e se fosse eu a mandar naquilo tudo, colocava um placard ao lado a dizer "this is Bermuda, the island that you might not see if you carry something illegally with you."
Dentro do escritório, comumente, conhecido pelos nossos imigrantes como "ofa" (office), estava um senhor de porte considerável grande, com uma voz considerávelmente potente, a tratar de assuntos considerados importantes. Por cima da sua cabeça tinha uma ventoinha reproduzindo perfeitamente o programa "presos no estrangeiro".
Peguei no JM e disse " João Maria, olha bem para a mamã. Trouxeste alguma coisa que a mamã não saiba? Tipo, bolotas no estômago, cintos de cocaina à cintura, plantas invasoras, tabaco falsificado? Estás a pensar vir trabalhar sem contrato, abrir alguma conta, qualquer coisa!??
Pronto, então agora podes parar de fazer ar de delinquente. Isto não abona a nosso favor, ok? Vá lá, a mamã está a pedir.
Oh, toma uma banana." Ninguém consegue ter ar de rufia a comer uma banana, pelo menos eu acho...
"Next", chamou o senhor com ar jamaicano.
Explicamos a situação e dissemos que os familiares estariam à nossa espera lá fora. O senhor disse que iria chamá-los pelo microfone e eu pela minha experiência em aeroportos sabia que a probabilidade de alguém, que não vai viajar, perceber o seu nome no altifalante, pronunciado por estrangeiros era quase impossível.
Aí eu disse " preparem-se família que vamos de volta para Portugal, não se desarruma as malas nem percam o sorriso, que mal a gente aterre em São Miguel, vamos directos para a Ribeira Quente e Furnas. Querem água quentinha, mamã dá água quentinha. João Maria say bye bye to Bermuda."
Bem dito bem certo, ninguém se acusou.
"Do you have a phone number to call?"
Sim tenho um número de telefone, claro, mas é que nem penses que eu vou activar os dados móveis! Eu vim de Portugal, POR-TU-GAL, não ganho 30 "dollas" à hora, não tenho conta desviada para esse paraíso fiscal. O dinheiro está todo contadinho, por isso não esperes que vá gastar uma saca de dinheiro em telefones só porque o senhor acha que temos ar de quem vem espalhar a delinquência.
Devia ter trazido o vestido de noite, com o lenço amarrado ao pescoço, óculo de sol e lábio vermelho e àquela hora já eu estava a dar cavirotas numa praia qualquer.
Isto era o que eu queria ter dito mas, basicamente, mostrei-lhe o número no telemóvel e fiz ar de atrasada mental. Estive quase quase a babar-me, mas entretanto ele já estava a digitar o número no seu telefone.
Uff que sorte, olhei para os rapazes com ar de "se não fosse eu e o meu ar perfeito de atrasamento mental, já estávamos sem orçamento até ao natal de 2019.
A minha mãe atendeu e lá se resolveu a situação, disse umas graçolas, rimo-nos todos e ala que nos pusemos na alheta. Fui logo trabalhar sem contrato, só para me vingar da imigração. Foi mesmo ali no aeroporto, pus-me logo a arrumar carrinhos e a pedir "dollas".
Vi a minha mãe que foi um consolo muito grande no coração, mas consolo maior foi vê-la a consolar-se com o neto. Não há amor maior e mais bonito.
Entretanto a aventura já estava a rolar e como nos acontece sempre coisas que não lembra ao diabo mais novo, há muita coisa para contar...
Entretanto deixo-vos uma foto do Little Pineapple a brincar ao jogo "sou rapper delinquente."
Foi por causa deste ar que fomos barrados... De certeza absoluta!
Finalmente chegou o dia de nos pormos na alheta.
Até ao dito dia estás sempre a pensar que alguma coisa vai acontecer e alguma coisa é o quê?
É que o pirata apanhe alguma mazela e nos trame as férias. Por isso, na recta final estava eu sempre a perguntar,
"vê se ele está quente, achas que é febre? Vê se tem borbulhas."
Até à data tudo ok, só uma intolerânciazita à lactose que foi rapidamente controlada.
Começamos muito bem, só com um pequeno percalço chamado "voo cancelado".
Sem stress, vamos no dia a seguir, o importante é que estamos de férias e que se é para acabar o mundo que seja quando estivermos de férias. O importante é o espírito em que se leva a coisa.
No dia a seguir lá fomos nós todos animados rumo aos states.
O JM tomou, sem a nossa autorização, alguma substância ilícita que provoca safadez, hiperactividade com um toque de malcriação e desfadamento. O rapaz virou. Eu não sei, mas se me pedirem para fechar os olhos e visualizar o Hitler com 16 meses eu fecho e vejo um Little Pineapple com bigodinho a impor a sua vontade por todo o lado.
Andou a viagem toda a meter-se com as assistentes de bordo, a fazer palhaçadas, a achar-se engraçadinho, a dizer não a todas as minhas ordens. A querer ficar em pé quando deveria ficar sentado, a querer ficar sentado quando deveria andar e se já falasse aposto que diria qualquer coisa como "eu quero que a rua sésamo vá para o raio que a parta."
Se calhar é a ausência de lactose que o enche cheio de vontade própria, cheio de dono de si, cheio de confiança.
Truque de viagem número um:
Munires-te de bananas e pão. Só com bananas e pão é que ele sossega.
Ao chegarmos a Boston lá fomos nós sem carrinho de bébé com ele ao colo para a fila interminável dos passaportes e da alfândega, por cá, país magnífico, este topo do mundo, não há prioridades para bébés, deixam isto para a recôndita e velha Europa.
Ao sairmos do aeroporto estavam nada mais nada menos do que 9 graus. Frio pra cacete e o nosso transfer só nos poderia vir apanhar dali a uma hora. Uma hora a rapar frio e a tirar beatas das mãos do JM, sim ele cata tudo o que é lixo e sim ele continuava em modo "electric Pineapple". O transfer chegou mesmo a tempo de eu não me passar com as malditas beatas.
Estava carregado de bombeiros brasileiros, peruanos e outros que mal consegui decifrar, o cansaço já se tinha apoderado de mim desde o primeiro minuto da viagem. Preparar, prever, organizar as tralhas de uma viagem com uma criança caaaaansa muito. Toca a despachar que no dia a seguir partiríamos para as Bermudas, para o sol e calor.
A viagem demorou duas horas, o que acaba por ser peanuts para quem vem de uma de quase seis horas.
Ao aterrarmos nas Bermudas, saímos do avião e primeira constatação:
Bafo! Humidade absurda com temperatura absurda, igual a calor demoníaco.
Segunda constatação:
Dão prioridade às crianças, o que faz toda a diferença para quem carrega piolhos eléctricos e jet legados e cozidos do calor.
Ao preencher os papéis alfandegários percebi que não sabia a morada que iríamos ficar. Disse: " inventa uma."
" Não, digo que vamos ficar em casa de família e verás que não há problema." Respondeu o pai da criança.
Eu só queria chegar ao destino, ver e almoçar com a minha mãe...
Tinham-nos dado prioridade e tudo... só que...
Continua...
Sobrepõe-se a credos, raças, estratos sociais, aos do norte e aos do sul, aos que assinaram o acordo de Paris e aos que não assinaram o acordo de Paris, aos que usam sapatos de vela e sandália inglesa, aos que usam chinelos e aos de sola de roda de trator, todos têm algo em comum... Serem país e terem filhos com dois pés.
Muita emoção para um dia só!!
O papa, o Benfica, o festival da canção e o JM com o rabo assado.
Vimos o papa e o Benfica sempre a choramingar, ter um rabo asado, encalado e frito custa para caraças e uma fralda a fazer efeito estufa custa ainda mais.
Para festejar o tetra e ver o festival da canção soltamos os instrumentos... e isso é que foi uma alegria.
Já mijou duas vezes, uma delas nas cortinas, mas ao menos está tão feliz por ter o rabiosque à fresca.
O bom é que tá bom tempo para secar roupa...
Estamos em modo festivaleiros a tomar happy showers para vermos cheirosos o nosso Salvador.
Aí salvador, depois do 35 título do Benfica, do campeonato europeu, ganha-me o festival da canção pelo pequeno ananás.
É que assim quando ele aprender na escola que descobrimos o Brasil e o caminho marítimo para a Índia já não vai estranhar tanto como eu estranhei.
Vá lá... pela criança, faz-me este favor.
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