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A maternidade abordada em tom humorístico, no meio do Atlântico, por um casal em que a experiência neste mesmo assunto é nula. O objectivo é relativizar o difícil e complicado e rir, rir muito...
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde os projectos da creche iriam chegar e temia por este dia. Sempre fui uma lástima em trabalhos manuais e por causa disso a 3 feira, sempre teve uma conotação negativa na minha vida, tudo porque era à 3 fra que tinha três horas de EVT. Três horas a ver os sucessos dos outros, três horas a questionar-me o porquê de ter mãozinhas, três horas a ver quem seria mais fácil de subornar para me acabar os trabalhos, três horas a deparar-me com a minha incompetência.
Lembro-me da professora J, com óculos fundo de garrafa, completamente, monopolizada pela enérgica e às vezes má, professora A (era má para mim porque não dava uma pá caixa).
Um dia, dia de trabalhos muito atrasados, em que os outros já estavam no terceiro projecto e eu ainda estava na confecção da capa, olhei para a J com os seus olhos pequeninos, no seu mundo, sempre tão caladinha, com um ar angelical. Decidi tentar a minha sorte e fui ter com ela com ar de RSI (rendimento social de inserção) e pedi baixinho, sem que a A visse, pedi para me ajudar a vincar a capa com o canivete. O pedido de ajuda era mais, " por favor vinca-me esta cartolina e transforma-a em capa, porque a probabilidade de utilizar o canivete nos pulsos é maior do que na capa, ok?"
A prof. J percebeu a mensagem e lá vincou-me a cartolina, tornando-a numa capa, numa arquivadora de projectos da treta. Quando inspecionei melhor a capa, vi que a parte de baixo tinha sido tão vincada que ela a tinha cortado. A parte de baixo da capa, parte que era suposto segurar folhas e tretas, estava rota!!
Fiquei meia atónita, afinal a J tinha uma Rita dentro de si e era professora. Afinal, havia esperança, eu poderia ser alguma coisa, mesmo tendo mãos de lesma!!!
A capa teria de ir a avaliação, mas não me preocupei muito com o erro grosseiro, porque a autora do erro era, ao mesmo tempo, avaliadora, juntamente com a tão temivel A.
Pensei," não vou ter boa nota, mas ela não me vai deixar ser arrasada, visto, ter sido ela a grande culpada."
" Rita, vem mostrar-nos a tua capa para que a possamos avaliar."
Eu estava tão feliz pelo facto de ter conseguido apresentar um trabalho a tempo de ser avaliado, que nem me preocupei com o rasgo.
Quando a prof. A, com as suas pulseiras de prata, percebe que a capa está rasgada, levei uma ensaboadela tão grande, em tom e som tão elevado que eu não me mijei toda por pura obra e graça divina.
Eu só olhava, com olhos de dragão a querer lançar fogo, para a sonsa da J, ali ao lado, com ar escandalizado, sem nunca ter assumido uma parte da culpa.
Este dia marcou-me, jurei para mim mesma, eu posso ser a vida inteira mãos de lesma, mas, jamais, serei sonsa e sismado.
Poderia, também, ter tirado a lição de fazer eu própria e sem ajuda os meus trabalhos, mas esta lição dava muito trabalho. Fiquei-me só pela a de não ser sismada e sonsa, coisa que até hoje nunca aconteceu.
Teria muito para vos contar sobre a minha incompetência artistica, ficou um cheirinho...
Quando na creche disseram-me que teria de realizar uma sacola de Pão por Deus com o João Maria, lembrei-me que tinha escolhido a melhor madrinha e padrinho do mundo para o pequenino. Isto, também é ser mãe, saber delegar certas tarefas tendo em vista o sucesso do teu filho.
Eu sofro de um síndrome nunca antes estudado, chama-se síndrome de imaginação/ideias/ criatividade férteis sem ter jeito nem energia para as concretizar. Ideias e criatividade não me faltam, vão para onde quiserem...
E pronto a madrinha apresentou-se com esta maravilhosa sacola, feita com tanto amor e carinho.
O tecido verde, trouxe-o do Havaí, quando eu e o pai fomos em 2014. Mal sabia eu que seria empregue na primeira sacola de pão por Deus do meu filho.
Finalizamos o projecto com a assinatura do Little JM e com a ajuda e carinho da nossa querida e maravilhosa tia Anita.
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