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Festa na aldeia

por Pineapple com açúcar, em 16.08.16

Quando era criança havia três datas que me faziam riscar o calendário, eram três datas que me davam insónias na véspera de tão entusiamada.

 

As datas eram o meu aniversário, o Natal e as festas da Nossa Senhora dos Anjos.

 

As festas em pleno Agosto, em pleno mês de férias, mês de praia e sol eram de uma alegria imensa. A chegada dos aviões e dos carrinhos das "estacadas" eram a prova de que a festa ia mesmo mesmo começar e que alegria era vermos eles acampados em pleno pasto. Vê-los montarem o estaminé com uma destreza e rapidez, a mesma com que desmontavam em rumo à próxima festa de aldeia. De tempos a tempos havia o rumor de que os carrinhos não viriam naquele ano. Que dor, que angustia, festa sem "carrins" não era festa e quando os viam chegar, faziam a notícia voar em menos de dez minutos em cada casa da freguesia. 

 

A próxima grande tarefa era colecionar o maior número de fichas e senhas para serem utilizadas em todos os dias da festa.

 

Tinhamos roupa nova, roupa nova para os três dias, mas antes já se tinha gasto litros e litros de lixívia a lavar a casa de cima abaixo, a arear todo o canto e soleira da casa. Casa que não era "escabelada", não era casa digna da festa.

À noite vai-se para a festa de calças para esconder os joelhos negros de tanta carpete lavada, dedos das mãos quase sem tocos de tanta palha de aço usada e muitas vezes,  completamente, estouradas de tanta batata descascada e casa "escabelada".

 

Faz-se tabuleiros de carne assada, bebe-se muito vinho doce e muita fruta. Come-se que nem "leãs".

 

Tinhamos o ritual de ir comprar à praça fruta e loicinhas de barro na manhã do dia 15 de Agosto. Uvas e melancia da caloura eram as escolhidas, aquelas uvas que malham a roupa e que dão direito a puxão de orelha... Malhar a roupa da festa era estar, verdadeiramente, em maus lençóis.

 

À noite era pegar no dinheiro amealhado o ano inteiro e criar uma lista de prioridades. 

 

Primeiro pipocas, depois algodão, depois ir à senhora das "arregolas" com o ajudante drag queen, depois ir à máquina que lê a mão, depois "aviãs", depois "carrins", depois tremoços, depois gelado na praça, depois bilhetes no bazar, depois ir levar a jarra ganha nos bilhetes do bazar à mãe e pedir dinheiro para um cachorro que ainda não se comeu nada hoje. 

 

Enfim... Aquilo era uma azáfama, andávamos sempre em estado histérico e àvido para não perder nem um bocadinho do que a festa nos dava. 

 

A festa era sinónimo de côr, de música, de pessoas alegres e bem dispostas, agora tenho um filho, agora é a minha vez de o mostrar a festa, de criar rituais e tradições, de o mostrar as carroças feitas à mão, dos galinhos de açúcar, das flores no chão, da verdadeira festa. 

 

Este ano com muita pena nossa não fomos, um imprevisto estragou-nos os planos para o dia, mas para o ano ele poderá escolher a sua carroça. Entretanto, montei-lhe o arraial que eu não sou mulher de deixar passar uma festa em branco.

 

 

 

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3 comentários

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De Sara V. a 17.08.2016 às 01:23

uau Rita, fizeste-me reviver aquela azáfama como se fosse véspera!!!! espetaculá a mão na boca do leão, muito bom parabéns.
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De Vera Moniz e Medeiros a 23.08.2016 às 11:36

E a carroça não podia faltar! Pois está claro! :P

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