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Sete Meses de João Maria e o gelado de banana da Esquimó

por Pineapple com açúcar, em 29.08.16

Há uns 28, 29 anos atrás eu e a minha alma gémea da altura, minha prima, tinhamos por hobby espalhar o terror. Era uma actividade que muitas vezes acabava em apoteose, com um magnífico e bem dado fardamento.

 

Ela era destemida e aventureira, eu era mais coninhas e medrosa. Ela era habilidosa e criativa e juntas formávamos uma equipa imbativel.

 

Não precisávamos de muito para inventar uma brincadeira fenomenal, às vezes bastava-nos lenha e fósforos para fazermos uma fogueira e cosermos uma coisa chamada de sopa de couve, à nossa moda é claro, ou então precisávamos de um mar em Dezembro para darmos banho aos nossos filhos e por consequência em nós.

 

Gostávamos de ferramentas e tintas para desmontar o que estava montado e pintar o que já estava pintado. O meu avô, sem saber, fornecia as ferramentas para a bricolage do dia. Um dia decidimos pegar no spray das feridas das vacas, roxo, lindo para pinturas e grafites e decidimos desenhar uma obra de arte na parede branca. Nunca fomos raparigas de nos contentar com pouco, por isso a dita parede teve de ser coberta do inicio ao fim com as palavras Carolina e Rita. No fim do trabalho achávamos que sairiamos ilesas e que ninguém iria desconfiar de nós. Não aconteceu... A Carolina e Rita foram apanhadas. 

 

Nos anos 80 a fartura não era muita, ou melhor, havia fartura de sopa, de fruta e de papo-secos com manteiga. As casas não estavam recheadas de guloseimas e estas eram motivo de festa quando eram vislumbradas. Por este motivo, a nossa vida, muitas vezes era preenchida a sonhar de olhos abertos, sonhávamos em comer todos os caramelos que colavam nos dentes, chupa chupas, "gamas" gorila e gelados, muito gelados. 

 

Ao domingo o meu avô interrompia brincadeiras de horas para distribuir gelados por cada um de nós. Éramos seis, às vezes mais... Em fila, de caras rosadas e transpirados de tanta cambalhota, corridas e pulos, distribuía um por um. Ainda consigo lembrar-me da alegria que se sentia ao desembrulhar um gelado, fazia-se silêncio e só quando terminava o gelado, (uns dois minutos) é que se percebia que a casa estava cheia de crianças.

 

Um dia eu e a Carolina, sempre a Carolina, encontramos, esquecida a carteira do nosso avô. Lá estava ela, recheada com notas, sozinha. Duas miúdas de olhos grandes com cabeça de amendoim descascado, mal vislumbraram aquele oásis não pensaram duas vezes e não houve desenhos animados com finais moralistas que nos salvasse. 

 

Abrimos a carteira e não nos contentamos com quinhentos escudos, nem com mil, usurpamos cinco contos "duá vez"!!

 

Fugimos com ar de ninjas a saltar muros e escadas e janelas e afins e só quando tivemos a certeza que estávamos longe o suficiente de casa é que entramos em consenso com o que iríamos fazer com aquele dinheiro.

 

Decidimos que queríamos o investir em gelados de banana, os famosos gelados de banana da esquimó. Fomos ao café da freguesia, café que o meu avô frequentava. Tinha um balcão enorme, castanho e para que o senhor nos visse, tínhamos de fazer os pedidos pela lateral.

 

Com ar de quem foge da polícia, mas sempre em modo ninja, dissemos que queríamos aquilo tudo de gelados de banana. Cinco contos em gelados de banana. Os gelados de banana deveriam custar uns vinte e cinco escudos. Obviamente que o senhor percebeu que éramos ladras e que a vítima tinha sido alguém da família. Colocou num saco de plástico uns cinco gelados e não nos deu troco. As cabeças de amendoim descascado foram a correr felizes da vida, pensando que tínham escapado ilesas a mais uma aventura. Fugiram e esconderam-se atrás de um carro para comerem o investimento. Comemos um gelado cada uma e depois percebemos que os restantes estavam a derreter e que não os podíamos levar para casa. Só aqui é que metemos em causa o malogrado investimento. Devíamos ter investido em chocolates Regina, em guarda chuva de chocolates... Bateu-nos a tristeza e vimos que o crime não compensou. 

 

Quando chegamos a casa, de boca amarela, a Carolina, sempre a Carolina levou um carolo... Tínhamos sido descobertas, descobriram-nos à velocidade da luz!!

 

Ontem o JM fez sete meses, sete meses de sorrisos marotos, sete meses a ver o sorriso mais lindo do mundo. Ele tem um sorriso que desarma que derrete qualquer um...

 

Os padrinhos ofereceram-lhe, nada mais nada menos do que um "gelado de banana" e ele rejubilou com o seu primeiro gelado. Uma T shirt enrolada em forma de gelado no papel dos famosos gelados de banana, os bananetes da esquimó.

 

Primeiro perguntou se era para ele, depois não queria acreditar que lhe tinha calhado um gelado de banana, de seguida agradece aos céus o maravilhoso presente e por fim aparece feliz e contente com a sua t shirt de banana vestida.

 

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Bem a propósito a minha alma gémea, a Carolina, a minha Carolina fez trinta e cinco anos ontem. 

Muitos parabéns princesa, que faças parte da minha vida por mais cem anos.

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2 comentários

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De Anónimo a 30.08.2016 às 21:33

Amei!!
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De Carolina Santos a 31.08.2016 às 11:33

Minha querida alma gêmea, não tinha visto está página. Chorei, fartei-me de rir, fiquei toda arrepiada. Adorei tanto que até agora fiquei sem saber como te agradecer, porque não consigo encontrar tais palavras que consigam fazer justiça a forma como me descreves-te e como descreves-te alguns episódios da nossa fantástica infância. Memórias estas que guardo com muito carinho para toda a minha vida, tal e qual à pessoa que tu és. Amo-te muito e sim, fizeste parte da minha vida e farás sempre parte dela, isso faço questão. A tua pessoa é inteira e completa para mim é uma dádiva ter-te como minha irmã, como prima e como a minha grande grande amiga. Obrigada adorei, superou tudo. Amo-te
O nosso JM, está o máximo, lindo lindo, toda gente comenta comigo que ele é lindo.

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