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A maternidade abordada em tom humorístico, no meio do Atlântico, por um casal em que a experiência neste mesmo assunto é nula. O objectivo é relativizar o difícil e complicado e rir, rir muito...
Antes que recalque tudo, tenho de vos contar de como foi este maravilhoso acto de dar à luz.
Eu estava com umas cagunfas que nem vos conto, até porque as grávidas que conhecia já tinham todas os seus bébés nos braços, e eu era a única a ter pesadelos em fazer sair um ser de dentro de mim. Eu tinha, eu tive, um ser dentro de mim. Como é que isso é possível, como?!?
Das mil e uma discrições de partos e acreditem foram muitas, nenhum foi igual ao meu.
Há qualquer coisa neste dia que faz com que as mulheres mal apanham uma em vias de dar à luz, desbobinam, desbobinam, desbobinam todos os pormenores do seu dia de parto. Aliás, eu consigo me lembrar de mais detalhes de alguns partos de conhecidas minhas, por ouvir mil e quinhentas vezes, do que do meu.
Li a algures que as mulheres têm uma grande necessidade de falar sobre isso por ser uma experiência traumática e que o desbobinar é de certa forma uma terapia.
Falaram-me tanta vez no rolhão mucoso e no rompimento das águas que fiquei a espera deles para poder ir para o hospital...Nada disso.
O dia foi um dia estranho, dormi à tarde e sentia-me abatida e com umas dores um pouco estranhas, pensava que deveria estar a desenvolver alguma infecção urinária.
Já estava de 38 semanas, mas não conseguia associar aquela indisposição ao trabalho de parto.
Acordei da minha sesta e de um momento para o outro comecei a sentir umas dores que pareciam cólicas, fiquei ainda a tentar decifrar se aquilo eram as famosas contrações até que... Mother fucker, son of a bitch, puta kio pari, Oh god... Esta merda dói.
Desde que as senti de forma suave até à agressividade da coisa, deu tempo de tomar banho, vestir pijamas, pensava que ainda ia dar para dormir qualquer coisinha, preparar a mala com as últimas coisitas... E ainda deu para tirar umas últimas fotos de barrigona.
Até que de um momento para o outro as contrações estavam exactamente cronometradas de dez em dez minutos.
Quando disse que achava que estava a ter contrações o pai da criança já estava de pijamas deitado no sofá e disse:
" A sério?!? Eishh logo hoje que não dava jeito nenhum."
E eu disse:
"Oh homem não seja por isso, acho que tenho aqui o contacto da senhora Contração, que é 91 e tudo, ligo-lhe a dizer que aconteceu um imprevisto, que hoje não dava lá muito jeito. Mando beijinhos para a família e tudo."
O caso mudou de figura quando o pai viu que aquilo estava mesmo mesmo acontecer e quando passei a ter as contrações de cinco em cinco, já gritava para me despachar como se conseguisses tornar-te numa Rosa Mota com aquelas putas dores.
O meu medo era chegar ao hospital e não ter tempo para levar a "pendural". Não faço parte daquela quota de mulheres que querem o parto mais natural possível. Eu queria as drogas todas a que eu tinha direito e se pudesse tinha adquirido mesmo as ilícitas.
Cheguei ao hospital à uma da manhã. Não estava a pensar em nada, em papéis, documentos, nada. Estava concentrada em controlar as putas dores, em fazer as famosas respirações.
O pai foi impedido de entrar.
Quando entrei, estava tudo às escuras e vi ao fundo uma senhora de casaco de malha pelos ombros, a famosa "suéra" e as mãozinhas enroscadinhas com ar de quem saiu de um sofá quentinho, fazendo com a cabeça aquele acto de " Diga" sem esboçar uma palavra.
Se eu estivesse mais sã, e a pensar como deve de ser tinha respondido.
"Wooo, eh mulher tudo bem?!?
Vinha saber se me queriam comprar umas rifas para ajudar o centro paroquial dos remédios. Acabou-se o Coração de Ouro e a Regra do Jogo e lembrei-me que vocês podiam estar à uma da manhã sem fazer nada no hospital!!!"
Mas, não, não consegui exercer esta chalaça é só disse:
"Senhora, acho que estou em trabalho de parto."
Com ar e em tom de, por favor, ajudem-me, estou nas vossas mãos e acho que vou passar desta para melhor nos próximos minutos.
Encaminhou-me para o quarto e preparou-me o CTG.
" Senhora pode esperar um bocadinho?? Estou a ter uma contração.
Não querida, temos de nos despachar."
Ah, ok, têm de se despachar para fazer aquela tarefa tão árdua chamada, fazer nenhum, visto estarem com o serviço a abarrotar. Sublinha-se que era a única no serviço, mas ela tinha de se despachar.
Já estava com três centímetros. A senhora enfermeira disse para a outra que teria de ficar lá internada e eu só pensava:
O que?? Estavam a pensar em mandar-me embora, euuuuuu?!?!
É que nem de guindaste me tiravam dali com aquelas dores. Virava cachalote e fazia um arrojamento ali mesmo sem qualquer hipótese de me mandar embora.
( continua...)
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