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Parto #2

por Pineapple com açúcar, em 17.04.16

Era oficial estava, realmente, em trabalho de parto.  

 

Não era invenção minha.

 

 

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 A senhora da "suera" indicou-me o quarto onde iria passar as passinhas do Algarve. 

 

Perguntei-lhe quando poderia levar a epidural e disse-me que era de imediato... Ahhh graças a Deus!!

 

Disseram-me muitas vezes que depois da epidural tudo seria mais fácil, acreditei, mas nunca pensei que fosse tão eficaz.

 

Lá veio a senhora da "pendural", uma senhora muito calada sem grandes expressões.

 

Eu também às duas da manhã não tenho grande expressão, mas perante a desgraça alheia ainda me comovo um bocadinho. 

 

A senhora da "suera" disse-me que ao levar a epidural não me poderia mexer de forma alguma. Nada, nada, nada. 

 

" Sim senhora." Disse eu com olhinhos de cãozinho abandonado. 

 

"Ok, senhora eu tou a ter uma contração, podemos esperar só um bocadinho?"

 

"Não querida, temos de nos despachar."

 

Ahhhh desgraçadas, demónios, vocês querem me por doidinha. Apetecia-me desmontar o cabo do soro e dar-lhe pelas pernas dizendo em tom compassado, eu-nao-tenho-a-culpa-do-rapaz-querer-nascer-às-tantas-da-manhãaaaa- Des-gra-ça-da (sempre a levar com o cabo).

 

É qualquer coisa como, olha, vou dar-te um pontapézinho na tomateira, mas não poderás mover uma palha. Isto para os senhores entenderem. 

 

Ou então, olha vamos passar com esta "contrapilha" (caterpillar) pelos pés mas não te podes mover.

 

Se calhar há uma explicação científica para as palavras de ordem desta noite serem " temos de nos despachar", mas não me explicaram qual era, por isso assumo que seja despachar só por despachar e também não era porque o rapaz estava quase a nascer, nem porque o serviço estava a abarrotar.

 

Eu, uma pobre de Cristo, só me concentrava nas benditas respirações que aprendi nas aulas de preparação para o parto e que exemplifiquei à minha colega e amiga de aulas mais tarde. Ao que ela respondeu-me com:

 

"Estas respirações não existem."

 

"Existem, existem, eu fiz" ( em tom de, Ah descarada!!)

 

 "Querida elas podem existir mas não foram estas que aprendemos."

 

Nunca atino nada, nunca dou uma pá caixa, louvado seja Deus. Paguei 300 euros para um curso onde se ensina a respirar e chega a hora H invento respirações, que por acaso foram mega eficazes. Pelo menos para o meu cérebro de minhoca foram.

 

Em relação ao curso, foram os 300 euros mais bem empregues, elas não têm a culpa de eu ter cérebro de minhoca, foram todas uns amores e muito muito prestáveis.

 

Agradeço toda a paciência e preocupação demonstrada.

 

O bom foi que entre o dar e o não dar, a contração passou e levei no intervalo da mesma.

 

A partir daí foi nosso senhor no céu e epidural na terra.

 

Foi tão bom tão bom que estive quase a chamar o rapaz de João Epidural em vez de João Maria. Quase quase...

 

Adormeci e só acordava com o pai a queixar-se.

 

Ora era porque tinha frio, ora porque tinha sono, ora porque tinha dor de costas...

Verdade seja dita, não custava nada meterem uma poltronazinha e uma mantinha para quem estivesse a acompanhar. É que não há nada. Uma cadeira e that's it.

 

A senhora da "suera temos de nos despachar" disse que a evolução do parto seria mais ou menos um centímetro por hora, logo iria ficar umas boas horitas até ele nascer. E sofrer o pai da criança até à hora H seria uma praga.

 

Perguntei à "suera temos de nos despachar" se o pai podia ir para casa e voltar de manhã.

 

" De manhã quando?"

 

" Tipo às 7, nós moramos aqui perto e qualquer coisa ele põe-se aqui"

 

" Às 7 não!! Se quiser sair depois só entra lá para as 9."

 

" oh mas ele pode nascer antes disso, não pode?" Perguntou o pai aflito.

 

"Pode."

 

E eu nesta altura devia ter me levantado desmontado os cabos do soro e outra vez pelas pernas a baixo, sempre no mesmo lado a dizer "laparoza-maldita-quem-é-que-o-vai-sofrer-toda-a-noite-logo-agora-que-estou-entregue-às -drogas."

 

Claro que ele não se arriscou a sair, se bem que insisti bastante alegando que ninguém o ia impedir de entrar. Mas ele nem pensar que nos deixou.

 

Ainda hoje aquela criatura olha para esta noite e acha que o grande mártir foi sem sombra de dúvida, ele. Tudo porque adormeci e ressonei por breves momentos, momentos estes que ele fez questão de os registar, filmando. E pronto, esta foi a noite em que eu adormeci estirada numa maca (apoteose do conforto) enquanto que ele passou a noite em claro numa cadeira de madeira em pleno mês de inverno. Trabalho de parto... O que é isso??

 

A senhora "da suera temos de nos despachar" desapareceu para nunca mais voltar.

 

Saliento que apesar de tudo a senhora foi sempre muito profissional, pouco afável mas muito profissional.

 

Mudança de turno e que mudança... Estão a ver o genérico dos Simpsons, a parte em que diz The Siiiiimpsons e aparece as nuvens e o sol a brilhar?? Foi assim com o novo turno.

( continua)

 

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