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A maternidade abordada em tom humorístico, no meio do Atlântico, por um casal em que a experiência neste mesmo assunto é nula. O objectivo é relativizar o difícil e complicado e rir, rir muito...
Hoje pela manhã tive o Diabo da tasmânia em casa. Para começar, assim logo pela fresca, horário em que ainda estás a esforçar-te para coordenar todos os membros existentes no teu corpo, aparece-me vindo do lixo com uma cápsula de café na boca. Ficamos muito satisfeitos com o facto de ele já saber ir por o lixo no lixo, no entanto, há sempre o outro lado da moeda, de vez em quando ele vai ao lixo retirar lixo, só porque sim. De seguida retirou da estante todos os livros técnicos do pai, criando o risco de haver um cataclismo cá em casa. Lá fui eu toda apressada arrumar os livros, com bastante mais pressa do que quando o vi de cápsula de café na boca. Foi à casa de banho e atirou o brinquedo para a sanita, não estando satisfeito atirou a bola à banheira, não estando satisfeito, tirou todo o frasco existente na berma da banheira para o fundo da banheira. Não estando satisfeito desenrolou um rolo de papel higiénico, mas aí já fui a tempo de evitar mais um desenrolamento completo. Entretanto, tirava-o da divisão e reduzia o cerco. Fui retirar a roupa da máquina e quando dei por mim já tinha umas três peças enfiadas por uma nesga de janela aberta, em que duas delas eram brancas que nem a cal e já jaziam no chão porco da varanda. Para arrematar decidiu testar os meus limites e mesmo vendo a cara mais feia de todos os tempos, porque eu já estava CEGA e MOUCA, uma mistura de Odete Santos, Maria Vieira e a bruxa da pequena sereia, ele achou que poderia derrubar as três cadeiras da cozinha. Peguei nas mãos dele e de forma firme gritei-lhe que não. Ele, parado com a cabeça baixa a olhar para mim, fazendo com que ficasse com pena, até que em câmara lenta, sempre a olhar para mim, atira a quarta cadeira com toda a força. Peguei-lhe nas mãos e de forma firme disse-lhe que não e que iria ficar de castigo. Pela primeira vez iria executar esta enorme tarefa que é mete-lo de castigo. Bolas não tinha tido tempo de pensar nos pormenores, mas a hora era aquela, não podia voltar atrás, o Diabo da tasmânia ia ficar de castigo. Enquanto pegava nele esbaforida lembrei-me que tinham-me dito, "tens de selecionar um canto da casa com uma almofada e é aquele canto que será o canto do castigo", olhei para os cantos da sala e não tinha nenhum disponível, não tinha tempo para elaborar um projeto e deixei-o em frente à estante. Ele lá sentadito a chorar, com aquelas lágrimas a rolarem pela cara a baixo e o meu coração a encolher, encolher, encolher, até que percebi que o tinha colocado em frente aos seus brinquedos, mesmo em frente à zona de brincar. Basicamente, o que eu quis dizer foi " visto que estás a ser um malcriado de primeira e que daqui a usares navalha no bolso, estraçalhando toda a gente, vai um piscar de olho, vou ter de te colocar de castigo. Estás a ouvir meu menino CASTIGO... vou por-te de castigo... a brincar, vá agora brinca para aprenderes!" Eu sentada de coração que nem uma uva passa a pensar: " sim senhora, que rica agente de autoridade me saíste, tu és um show de mãe, um espetáculo", nisto ele já estava de livros na mão e peças de Lego em riste. Deveria estar a pensar " Uahahah vou conquistar o mundo!" Até que o meu outro ser, aquele que vê sempre o copo meio cheio pensou: " ele vai para a creche, só o vês às 3 da tarde, também não podias deixar o miúdo ir neste estado. Para a próxima fazes melhor." Peguei nele e disse, " vá, pede desculpa à mamã e dá um abraço e beijo ( já o agarrando e afagando todas as dobras e banhocas existentes naquele mini corpo de diabo da tasmânia versus pequeno hitler versus pequeno Pineapple mais doce)", ao que ele responde com o ar mais doce de " i dont care, i love it... i dont care 🎵🎶" Siga rumo à delinquência...
Hoje faço nove meses e decidi medir o meu berço com as minhas mãos.
Decidi isto hoje à tarde quando estava a tentar lamber e morder os sapatos que fazem "plic plic" da minha mãe. Ela vem sempre muito escandalizada retirar-me os sapatos e outras coisas da mão. Esganaaaaaada.
Como já gatinho, consigo me desenrascar com outro objecto que não seja um brinquedo, mas há dias em que eles me tiram tudo. Não posso brincar com os telemóveis, que dão luz e sons, com os ipads, com sapatos, com os óculos de sol, com facas, com garfos, com objectos de vidro... Eu brinco com o quê? Com o ar?!
Numa destas retiradas de objectos, lembrei-me que seria divertido contar quantos palmos tem o meu berço, para mais tarde fazer uns cálculos e umas equações.
Há coisa de uma semana atrás comecei a gatinhar, primeiro de recuo e mais tarde para a frente. Gosto muito de fazer as coisas na creche, tenho plateia e mais tarde é que faço em casa... Porque quem manda aqui sou eu!!
Ando muito depressa com as pernas e às vezes os braços não acompanham e aí decido descansar um bocadinho, seguindo de imediato caminho.
Tenho um mundo para explorar, muitas divisões para ver... e a Fiji para apanhar.
Já me ponho em pé, mas às vezes as meias escorregam e caio redondo no chão. Medo?? Eu?!!
"Nim pensá", isso é sempre para frente.
Oiço tantas vezes a minha mãe dizer, "ele está a crescer tão depressa", e eu penso " meq querias que eu fosse caga tacos como tu..."
E é assim, a vida corre e já podemos falar em nove meses dentro e nove meses fora. E é neste marco tão importante que o João Maria passou a ser mais João Maria e menos meu. Os filhos são do mundo e para o mundo e as mães ficam atrás, atrás do palco, no "backstage" a segurar as costas quando caem, a segurar as mãos quando andam a segurar as pontas, a aplaudir, a enxugar as lágrimas. Atrás, com um sorriso gigante, atrás de braços abertos. Eu quero um filho que olhe para a frente, que descubra, que invista, que se interesse, mas quero que olhe para trás e me veja sempre, sempre lá. Quero que ele olhe por vontade e desejo e sinta que a mãe estará sempre lá, atrás, mas sempre presente com um sorriso do tamanho do mundo e o maior abraço do universo!!
Há nove meses que tenho um coração que não pára de crescer... Nove meses a querer viver todo o segundo intensamente, a querer viver mais do que nunca.
Aos oito meses tive que me separar por duas noites do meu bébé.
Vim em viagem de negócios a Nova Iorque... Mintxiraaa, vim a uma acção de formação a Santa Maria, o que não é muito diferente de Nova Iorque, sejamos sinceros!!
O JM ficou com o seu rico pai.
A mãe é que não estava à espera desta partida nem tão cedo, mas o que tem de ser, tem muita força e não há que ser dramática.
Pus logo em modus operandis a teoria da Positividade e comecei a enumerar as coisas que poderia pôr em prática, como dormir, ler um livro, jogar candy crush, nadar, papar as novelas todas com o comando na mão sem ter que pedir por todos os santinhos do céu para me mudar de canal... E assim sucessivamente.
No entanto, na prática as coisas não foram bem assim. A teoria da Positividade manteve-se, mas misturou-se com a teoria do "não consigo parar de pensar no que é que o rico filho anda a fazer", juntamente com a teoria do "será que me esqueci de dizer/separar/meter/lavar/arrumar alguma coisa?"
Vim para uma acção de formação e basicamente o meu primeiro dia foi assim:
"Então Rita, reparei que tem estado muito atenta. Tem alguma coisa a dizer?
Quem eu?!? Ah, estava a pensar no tempo. É que isto virou e eu estou às voltas e voltas a pensar no que é que o pai vestiu o rapaz. Espero que ele não tenha calçado os peúgos dos elásticos apertados, é que aquilo, num instante, faz garrote nas perninhas e já estou a visualizar o meu rico filho num canto da sala a chorar com tantos formigueiros nas canelas e pézinhos... E será que as auxiliares vão dar conta disso? Não sei...
Também estava a pensar nas unhas super sónicas que ele tem... Em duas noites devem disparar. Deixo um ananás em casa e ao regressar encontro uma garça.
E a cera dos ouvidos?! O pai é inimigo de lhe colocar cotonetes, aquilo deve estar em forma de cascata. Pineapplefalls.
Aaaaahhh, a senhora formadora estava a perguntar-me sobre a matéria?!
Acha que uma mãe com um filho de oito meses em casa, deixado aos cuidados do pai, sem avós, sem nada, vinha atinar alguma coisa para aqui?!
Acha que uma mãe que pariu à oito meses consegue ter algum poder de concentração e raciocínio. Se eu já tinha um cérebro de nêspera antes de engravidar, agora passei a ter um de mirtilo... Murcho!
Acha?!
Aaaaagooora!!! Não façam contas comigo."
Resumindo, não li, não dormi as horas que esperava dormir, não vi televisão, não nadei, mas, que diabo, também não é assim tão maaau...ninguém morre de saudades, nem eu nem ele e uma mãe tem de ter este poder de encaixe, tanta coisa que vem por aí fora...
Sabia que ele estava bem e que estava a ser muito bem cuidado. Afinal, para o pai, não há nada mais importante no mundo e mais além do que eu seu lindo Pineapple.
Para complicar mais um bocadinho não deixei nada separado. Não separei roupas, nem mochila para a escola, quis que fosse o pai a comandar as tropas, quis que ele sentisse o peso da responsabilidade. A única coisa que fiz, sem ele saber, foi colocar as melhores roupas a fazer pandã por cima. Sabia que ele iria pegar na primeira coisa que visse. Quando viu o resultado deve ter-se sentido super orgulhoso.
A verdade é que quando cheguei, depois de levar tantos beijos e abraços o senhor mini Pineapple só queria pai pai pai...
Correu bem... Bem demais.
Fui me deitar de coração apertado, mas no dia a seguir ele já gargalhava para a sua mãe com todos os seus dentes... Três!
A viagem foi alegre e divertida, com muito sono, falta de concentração e boa comida à mistura.
Falamos de espíritos e lugares assombrados ao jantar para cada um ir dormir de luz acesa para o seu quarto e arregalar o olho ao mínimo som.
Um ponto muito positivo:
O pequeno almoço de hotel. É bom, é muito bom.
Fui comer um crumble de maçã ao Espaço em Cena e fiquei deliciada com o crumble, com as infusões, com o ambiente e com a decoração. Five stars!
Andamos há, pelo menos, sete meses por estas bandas!!
Sete meses de tanta coisa boa... Sete meses a acordar com o coração a transbordar de amor!!
Bom dia pessoas engraçadas, funnys, jeitosas, glamourosas e todos mais!!!
Há um estudo feito por uma universidade Norte Americana que diz que quem segue o blog intitulado por Little Pineapple é, seguramente, giro, fantástico, funny, jeitoso, glamouroso e coisas boas que nunca mais acabam... E não é que é verdade!!
Mandei um email a dizer:
" showa que é verdade... Tudo muito Nice e muito Correct o que disseram no study.
I will send bolos lêvedos e pineapples pa vocês.
Thanks."
O menino aqui da foto é o grande culpado disto tudo e é também culpado pelo facto da mãe ter de publicar fotos a preto e branco, caso contrário a cores iria-se notar o verdadeiro buço, madeixas e sobrancelha por fazer... Esteticistas de Portugal, precisa-se urgente de serviço ao domicílio...
Mas, depois, há sempre uma mãe de três ou quatro crianças que aparece linda e glamourosa sem um pêlo sequer e tu... E tu... Tens três segundos para inventar uma boa desculpa sem tocares na de teres UM bébé.
Cá em casa andamos num descabelamento total.
É gadelha por todo o lado.
É a Fiji a largar pêlo e a deixá-lo no mais ínfimo espaço desta casa.
O pai anda a largar cabelo já há alguns anos, mas ultimamente é a desgraceira total.
A mãe tinha uma juba grande, cabelo era coisa que não lhe faltava até que a semana passada começou a cair aos kilos.
Já me tinham avisado.
A queda de cabelo pode começar por volta dos 3 meses após o nascimento do bébé e é o resultado das intensas alterações hormonais.
Pois então as hormonas que venham varrer a casa de meia em meia hora porque ninguém aguenta e eu não sou escrava das misses hormonas.
Estas cabras das hormonas... Se eu as apanho, eu juro...
A minha cabeleireira também já me tinha avisado.
" Quando começar a cair vem falar comigo que dou-te umas ampolas"
Eu?!? Mal tomo uma aspirina ia tomar ampolas cientificamente mal provadas que é mais provável duplicarem-me os pelos nas pernas do que fazer crescer um cabelo na cabeça.
Ai, é fazermos de tudo para que nos caiam os pêlos do buço para baixo e tomar ampolas para fazer crescer os cabelos na cabeça!!
Imagino o nosso corpo a dar informações à nossa cabeça, ao mestre cérebro.
" Tá tudo doido, tá tudo doido, tá tudo doido.
Fazer crescer cabelos. Fazer cair "pintelhos". Fazer crescer cabelos. Fazer cair "pintelhos"."
Sejamos coerentes, se é para cair que caísse tudo!! A mãe natureza às vezes é bem chatinha... Eta mulher complicada.
O Little Pineapple também está a perder a sua penugem. E disse-lhe:
" Tu também?!
Não basta o teu pai, a tua mãe e a Fiji a largar gadelha?!
Também a ficar careca?!"
O "mê fio" é muito sensível, muito especial.
Ficou ofendido com o que eu disse e quando o fui buscar ao berço, apareceu-me assim...
De cabeleira farta...
Ai amor, não era preciso.
É dos carecas que elas gostam mais... E ficas tão lindo careca.
Foi da lua, não foi?
E eu só pensava " mais cabelo para varrer!!"
O meu primeiro dia da Mãe foi brindado com dois feriados num o que lixou a vida de muita gente. Perfeito seria que o dia 1 de Maio fosse na 3 fra, isto é que seriam umas festas...
Fui brindada com uma surpresa logo pela manhãzinha, mas não há surpresa maior e melhor do que acordar e ver um sorriso destes.
Às vezes ponho-me a pensar:
" Será que é feliz?"
Outras vezes acho-me tão pouco para ele.
Queria tanto não falhar, queria tanto ser perfeita...ser perfeita para ti. Acho que não vai acontecer.
Era tão bom que houvesse ginásios que nos treinassem para sermos mães perfeitas.
" Como é que vai ser a sua modalidade senhora?"
" Uma vez por semana, o meu filho ainda é bébé."
" Duas vezes por semana, o meu filho tem 10 anos"
" Sete vezes por semana, curso intensivo por favor. O meu filho é adolescente."
Gostava tanto que gostasses de mim... Para sempre.
Deixei de ser eu para passar a ser a tua mãe no dia em que nasceste, passei a amar-te sempre e para sempre.
Gostava tanto que gostasses de mim... Para sempre.
Quando me vieram ver já estava a amanhecer.
"Bom dia. Então como se sente?"
Eu estava bem, mas já começava a sentir novamente as contrações, nada que se compare com a dor de quando dei entrada, mas como o momento da expulsão já se encontrava próximo, achei por bem avisar que já começava a sentir o downstairs.
"Não tem problema, vamos já dar um reforço da epidural."
Entretanto, a enfermeira super mega querida, que apesar de não estar fisicamente bem disposta foi um amor connosco, veio ver a quantas andávamos nós.
"Muito bem, já estamos com 8 cm de dilatação, para um primeiro filho está a correr tudo muito bem."
Até poderia ser mentira, poderia estar a ter um trabalho de parto lento, estar nervosa etc etc, mas ao ouvir estas palavras uma pessoa relaxa, tranquiliza-se, não entra em stress, em estados de ansiedade desmesurados e facilita-lhes o trabalho.
Ainda por cima sentia que estava com sorte na equipa que me estava a atender. Via-se que tinham todos uma boa noite de sono em cima e um bom pequeno almoço na barriga.
Estavam bem dispostas, alegres e prestáveis e nem me lembro se tinham "suera" vestida ou não.
" Já conseguimos ver a cabecinha e lá para as oito e meia o João Maria já está cá fora."
Que bom, já estava quase.
De um momento para o outro o meu corpo começou a tremer desmesuradamente e não era frio porque estava com uns calores pelo corpo todo.
O pai que já tinha entrado em modo nervo miúdo dizia-me:
" Pára de tremer!!"
"Achas mesmo que neste momento tenho controlo em alguma
coisa?!?
Achas que eu ando a tremer só porque me apetece, à laia de peta??
Olha eu a tremer... Mentiraaaa, não estou. Oh eu a tremer outra vez. Ahaha, apanhado, não estou. Oh outra vez...brincadeirinha, não estou.
Não levas um beliscão aqui mesmo porque estou a reservar as minhas energias todas para o nascimento da criança, entendes??
Faz um esforço para não me enervares, vá lá. Pronto dá cá um beijinho, vá."
Estava na hora!!
Lá para as 10 da manhã já deveria conhecer o meu bébé e a minha vida nunca mais seria igual.
Lembro-me que quando saí de casa parei por breves segundos à porta e ao olhar para ela pensei que a próxima vez que entrasse em casa teria um bébé nos braços e uma vida totalmente nova.
Lá fomos nós para a sala de partos.
Para além dos tremores e da vontade de lançar o Gregory, estava bem, calma e a achar que o pior tinha passado, tudo porque as minhas amigas que tinham tido bébés um mês antes tinham dito que fizeram duas ou três forcinhas e pronto nasceram as crianças.
Comigo não haveria de ser muito diferente. Mas, foi.
Tudo a postos, duas enfermeiras, uma auxiliar, uma médica interna, um médico de óculos sentado, um pai com uma máquina fotográfica, uma go pro, um iPhone e uma carrada de nervos miudinhos. Esta é a imagem que tenho, não sei se é a verdadeira, mas é a que tenho.
A enfermeira parteira pediu para fazer força.
" Sim senhora."
Fiz uma, fiz duas, fiz três...
" Não querida, mais força."
Mais???
Mais uma, mais duas, mais três.
" Querida, assim não chega. Não sente vontade de fazer força?"
" Não. Não sinto nada..."
E eu a fazer foooooooooorça sem sentir naaaaaaaada. Mais fooooooooorça sem continuar a sentir naaaaaada. Até que comecei a ver umas luzes brancas, tipo flashes.
Oh, luzes, sanefas de natal, gingó bells gingó bells.
Espera, acho que não é suposto ver isso e muito menos sentir uns formigueiros na cabeça.
"Senhoooora acho que vou desmaiar."
" Querida, é normal é normal, vá faça força. Tem de ser agora ou nunca." Em tom de "isto não é brincadeira".
A parteira pediu à outra enfermeira que desse uma ajuda. Ora a ajuda era nada mais nada menos que utilizar o peso do seu corpo sobre a minha barriga fazendo com que a criança descesse.
Não é pêra doce não, aliás é grotesco e nao estava a conseguir consentir aquela força toda em cima de mim. Só lhe pedia que parasse.
A sensação que tive foi que de um momento para o outro as expressões de toda a gente que estava na sala tinham-se alterado para " hi, isso tá lindo aqui. Belo trabalho tá aqui feito."
Foi aqui que eu pensei "Ai, que é agora que me fino. Eu ou o rapaz ou os dois passamos desta para melhor."
E pronto, veio uma força não sei de onde e ele nasceu.
Finalmente conheci-o, finalmente!!
Qualquer expectativa, qualquer pensamento, desejo ou sonho foi imediatamente superado.
Tudo o que não senti na gravidez senti naquele momento, no momento em que o puseram em cima de mim.
Apaixonei-me mil vezes num segundo.
Senti uma empatia imediata, uma vontade de o abraçar e nunca mais o largar.
Não conseguia acreditar que ele tinha estado na minha barriga durante 9 meses.
Nasceu com uns olhos enormes, com umas olheiras enormes e ficou a olhar para mim muito atento e calmo. Parecia que estava a ser avaliada, que me estudava os traços. Nem sei se conseguem ver alguma coisa, mas ele ficou ali quieto de olho muito arregalado a fazer beicinho.
Que momento!!!
Mais tarde senti uma culpa enorme por não ter gostado se estar grávida.
Como é que era possível não gostar de ter uma coisa tão mega maravilhosa dentro de mim, como?
Sentia uma culpa avassaladora porque não havia lugar mais seguro no mundo do que a minha barriga.
Agora havia um mundo todo a absorvê-lo um mundo onde eu não iria conseguir protegê-lo a cem por cento.
Ele já não era meu, era do mundo.
Que culpa... Ainda hoje quando penso nisso vêm me as lágrimas aos olhos.
Parei de tremer mas não consegui evitar o Gregory... Ups, desculpem senhoras, mas acho que não estava muito bem disposta. Ai muito se passa para se ter um filho.
O pai?
Tinha a certeza que o pai estava do meu lado esquerdo no momento da expulsão. Mas, quando olhei já não estava.
Olhei para todos na sala e estavam todos com ar calmo e sereno o que me fez depreender que o homem tinha simplesmente desaparecido e não ter dado um piripaque que o fizesse cair inanimado no chão.
Eu só pensei, " ai que pelintra, o rapaz nem 5 min de vida tem e já me desapareceu. Num instante foi comprar tabaco para nunca mais voltar."
Em menos de um minuto apareceu-me ele com duas bolas vermelhas no lugar dos olhos.
"Então homem onde estavas?"
"Fui ali para aquele canto chorar. Isto é muita emoção, é surreal. Eu preciso de ir lá fora chorar o resto. Tenho muita coisa para por para fora."
Que pai fofo!!
Levaram o Little Pineapple para se vestir, pesar e medir.
Neste arraial todo em que estava anestesiada com tanta alegria, completamente alienada do que me rodeava, concentrada nele, naquela nica de gente, não dei conta que quem andava a terminar o serviço era a interna.
Quando "botei" sentido é que ouvi a parteira a dar indicações de faz assim, faz assado.
Levaram-me meia hora para quatro pontinhos, não senti rigorosamente nada. Nada.
Mas quando olhei para o relógio e vi o tempo a passar deduzi que me estivessem a fazer um tapete de arraiolos lá em baixo. Nem pensar que ia para exposição!!
De seguida oiço a auxiliar:
"Menina faltam os sapatinhos."
"Sapatinhos?"
"Sim, os sapatinhos para pôr por cima do fatinho, aqueles de lã. Não me diga que não trouxe os sapatinhos?!"
Sapatos, mas o rapaz não anda!! Tá lindo, o rapaz nem uma hora de vida tem e eu já ando a pôr o pé na argola.
" Ahhh os sapatos!! Ai com as pressas esqueci-me deles em casa."
Mentira...
E pronto lá estava eu com um filho nos braços sem sapatos, mas super feliz. Tinha tudo corrido bem e ele estava cheio de saúde.
Que alegria, que alegria!!!
Finalmente comecei Pilates.
Com muita ginástica organizacional e com a ajuda do pai já ando a dar no duro e também já ando a faltar porque há dias em que não há ginástica que aguente.
Aproveito para dizer que aqui a família Pineapple não tem avós por perto, infelizmente as avós estão em partes opostas do mundo.
Uma vive em Londres e a outra nas Bermudas, péssimo para uma ajudinha, óptimo para as férias.
Esta árdua tarefa de criar um filho terá de passar, somente, pelos papás. Para além disso, a mãe ananás trabalha por turnos, com horários que variam entre as 5 da manhã e as 00:00.
A sentirem-se sortudas, mães de Portugal?
Há vidas desgraçadas... Mas não é a nossa que rebentamos de saúde e alegria de viver e ter uma casa e vida complicada são "pinotes".
Pronto, isso para se dizer que já comecei a cuidar do body para o verão, só para o verão que em outubro já me estou a cagar para as banhas e eu e a amiga celulite voltamos a ir juntas às compras de mãos dadas a cantar o jardim da celeste giroflé flé flá.
Mas, uma pessoa vai a quatro aulas, distrai-se e pumba...
Cheguei a casa após a quarta aula, dispo-me em modo automático passo pelo espelho que temos no tecto do nosso quarto, escorrego nos lençóis de cetim da cama em forma de coração que temos e estatelada no chão vejo o reflexo do meu corpo e pumba... À quarta aula de Pilates cresci 20cm e estou com 86-60-86, sempre com as "slipas" brancas adidas calçadas.
A foto acima foi tirada pelo pai, quando me levantei e vi-me grega com uma dor nas costeletas.
Que apoquentação, como é que eu fiquei com este corpo, como é que me distraí desta maneira nas aulas??
É que não sou das primeiras a fingir que já terminei os exercícios, nem sou das que quando o professor pede para fazer a prancha quase que se fica com o túnel da Ribeira Quente na boca. Faço tudo direito e num ápice fica-se com este corpo.
Não posso aparecer assim nas nossas praias.
O que é que vão dizer??
Olha aquela acabou de ter um filho e já está assim. Vê-se logo que não tem que fazer, não cuida do filho para tar no ginásio.
Não estou para isso, para esse escrutínio público, para este apontar de dedo.
Vou mas é aproveitar os 60% da telepizza para não ter problemas.
Era oficial estava, realmente, em trabalho de parto.
Não era invenção minha.
A senhora da "suera" indicou-me o quarto onde iria passar as passinhas do Algarve.
Perguntei-lhe quando poderia levar a epidural e disse-me que era de imediato... Ahhh graças a Deus!!
Disseram-me muitas vezes que depois da epidural tudo seria mais fácil, acreditei, mas nunca pensei que fosse tão eficaz.
Lá veio a senhora da "pendural", uma senhora muito calada sem grandes expressões.
Eu também às duas da manhã não tenho grande expressão, mas perante a desgraça alheia ainda me comovo um bocadinho.
A senhora da "suera" disse-me que ao levar a epidural não me poderia mexer de forma alguma. Nada, nada, nada.
" Sim senhora." Disse eu com olhinhos de cãozinho abandonado.
"Ok, senhora eu tou a ter uma contração, podemos esperar só um bocadinho?"
"Não querida, temos de nos despachar."
Ahhhh desgraçadas, demónios, vocês querem me por doidinha. Apetecia-me desmontar o cabo do soro e dar-lhe pelas pernas dizendo em tom compassado, eu-nao-tenho-a-culpa-do-rapaz-querer-nascer-às-tantas-da-manhãaaaa- Des-gra-ça-da (sempre a levar com o cabo).
É qualquer coisa como, olha, vou dar-te um pontapézinho na tomateira, mas não poderás mover uma palha. Isto para os senhores entenderem.
Ou então, olha vamos passar com esta "contrapilha" (caterpillar) pelos pés mas não te podes mover.
Se calhar há uma explicação científica para as palavras de ordem desta noite serem " temos de nos despachar", mas não me explicaram qual era, por isso assumo que seja despachar só por despachar e também não era porque o rapaz estava quase a nascer, nem porque o serviço estava a abarrotar.
Eu, uma pobre de Cristo, só me concentrava nas benditas respirações que aprendi nas aulas de preparação para o parto e que exemplifiquei à minha colega e amiga de aulas mais tarde. Ao que ela respondeu-me com:
"Estas respirações não existem."
"Existem, existem, eu fiz" ( em tom de, Ah descarada!!)
"Querida elas podem existir mas não foram estas que aprendemos."
Nunca atino nada, nunca dou uma pá caixa, louvado seja Deus. Paguei 300 euros para um curso onde se ensina a respirar e chega a hora H invento respirações, que por acaso foram mega eficazes. Pelo menos para o meu cérebro de minhoca foram.
Em relação ao curso, foram os 300 euros mais bem empregues, elas não têm a culpa de eu ter cérebro de minhoca, foram todas uns amores e muito muito prestáveis.
Agradeço toda a paciência e preocupação demonstrada.
O bom foi que entre o dar e o não dar, a contração passou e levei no intervalo da mesma.
A partir daí foi nosso senhor no céu e epidural na terra.
Foi tão bom tão bom que estive quase a chamar o rapaz de João Epidural em vez de João Maria. Quase quase...
Adormeci e só acordava com o pai a queixar-se.
Ora era porque tinha frio, ora porque tinha sono, ora porque tinha dor de costas...
Verdade seja dita, não custava nada meterem uma poltronazinha e uma mantinha para quem estivesse a acompanhar. É que não há nada. Uma cadeira e that's it.
A senhora da "suera temos de nos despachar" disse que a evolução do parto seria mais ou menos um centímetro por hora, logo iria ficar umas boas horitas até ele nascer. E sofrer o pai da criança até à hora H seria uma praga.
Perguntei à "suera temos de nos despachar" se o pai podia ir para casa e voltar de manhã.
" De manhã quando?"
" Tipo às 7, nós moramos aqui perto e qualquer coisa ele põe-se aqui"
" Às 7 não!! Se quiser sair depois só entra lá para as 9."
" oh mas ele pode nascer antes disso, não pode?" Perguntou o pai aflito.
"Pode."
E eu nesta altura devia ter me levantado desmontado os cabos do soro e outra vez pelas pernas a baixo, sempre no mesmo lado a dizer "laparoza-maldita-quem-é-que-o-vai-sofrer-toda-a-noite-logo-agora-que-estou-entregue-às -drogas."
Claro que ele não se arriscou a sair, se bem que insisti bastante alegando que ninguém o ia impedir de entrar. Mas ele nem pensar que nos deixou.
Ainda hoje aquela criatura olha para esta noite e acha que o grande mártir foi sem sombra de dúvida, ele. Tudo porque adormeci e ressonei por breves momentos, momentos estes que ele fez questão de os registar, filmando. E pronto, esta foi a noite em que eu adormeci estirada numa maca (apoteose do conforto) enquanto que ele passou a noite em claro numa cadeira de madeira em pleno mês de inverno. Trabalho de parto... O que é isso??
A senhora "da suera temos de nos despachar" desapareceu para nunca mais voltar.
Saliento que apesar de tudo a senhora foi sempre muito profissional, pouco afável mas muito profissional.
Mudança de turno e que mudança... Estão a ver o genérico dos Simpsons, a parte em que diz The Siiiiimpsons e aparece as nuvens e o sol a brilhar?? Foi assim com o novo turno.
( continua)
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