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Feliz dia do pai

por Pineapple com açúcar, em 19.03.17

Feliz dia do pai e bla bla bla...

 

 

Vocês (pai e filho) já me começam a irritar com essa coisa de "somos os melhores amigos e doamos as minhas fraldas sujas para o resto do mundo." 

Já começa a irritar todas as vezes que peço para vires para o meu colo e respondes com um autoritário "Não", rindo, de seguida, com ar cúmplice para o pai. Já começa a irritar que andes sempre colado às pernas do teu pai enquanto fico sentada no tapete dos brinquedos a aliciar-te com todo o brinquedo possível e inventado. Já começa a irritar que prefiras, sempre, o colo do teu pai e já começa a irritar que o mostres com afinco esganiçado à frente de toda a gente.

O que é que vão pensar de mim? Que bela merdinha de mãe essa me saiu.

 

Possa eu sei que tenho horários estranhos, que trabalho aos fins de semana, sei que as minhas brincadeiras são mais pacíficas e que não consigo carregar-te às cavalitas durante muito tempo, mas caramba, eu até sou uma gaja fixe e tudo. O pessoal diz que até sou engraçada e que os faço rir... juro, que dizem isso. ( já os imagino os dois sentados a rolar os olhos). Santos da casa não fazem milagres, eu sei... mas porque é que o teu pai faz e eu não faço, hein?

Tens uma idolatração pelo teu pai que primeiro consola a ver e depois começa a irritar, porque "tá bem já percebi, mas importam-se de fazer um espacinho para eu poder entrar?"

Quando o vês transbordas felicidade, aquela felicidade energética e iluminada. Ris-te desalmadamente das suas palhaçadas e mesmo quando já não achas graça, finges achar e forças as gargalhadas. Haverá coisa mais fofo do que um bébé fingir que está a rir à gargalhada só porque sabe que o pai gosta? Isto é amor, é amor puro.

Ris-te muito das minhas palhaçadas mas, quando te fartas não tens pudor de o demonstrar.

É um facto, vocês têm uma coisa só vossa e eu vou continuar aqui a dizer " importam-se de fazer um espacinho para mim? É que até dizem que sou uma gaja fixe e tal..."

 

É verdade JM, tens o melhor pai do mundo e tu sabes disto melhor do que ninguém.

 

P.S: Vais muitas vezes para a creche vestido pelas alminhas e a culpa não é minha... agora pensa!!!

 

 

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O diabo em cuecas

por Pineapple com açúcar, em 21.11.16

Sexta-feira, depois de um dia árduo de trabalho, de umas semanas árduas, estava feliz por ser fim de semana, por ter um jantar de amigos, por ter a babysitter contratada, por se avizinhar uma noite regada com um bom vinho, até ter posto a chave na porta e ter visto o Diabo em cuecas a cirandar lá por casa.

Olho para o chão e vejo tudo molhado, o homem de esfregona na mão e mil e quinhentos palavrões na boca. Pergunto "que raio aconteceu aqui?!?"

O meu pequenino mais saboroso tinha aderido ao cântico gregoriano. Andou a espalhar o Gregory all around da casa. Vomitou em cima do pai, na cama, no chão... Em todo o lado!!

"E onde está ele agora?!", perguntei eu assustada à escrava Isaura de serviço.

"Está a ser lavado pela tia Anita, pedi auxílio urgente ( mais cento e vinte e dois palavrões)."

Entro e vejo o ser mais apetitoso à face da terra de dedo na boca, todo lavadinho e cheiroso com ar de "hiii, isso já teve um pandemónio aí pra fora", a receber-me com um sorriso gigante, a tia Anita só o elogiava por ser tão bem disposto, educado e cooperativo.

Aparentemente estava bem e ninguém diria que se tinha vomitado todo, até que sem nunca perder o sorriso começou a pedir colo e aninhar-se, a perder forças e logo de seguida lá vomitava outra vez. Foi assim até se deitar, até o pai ir à fármacia comprar uma solução, até bebericar umas colherzinhas do soro e logo de seguida vomitar no berço outra vez. Coitadinho do meu bébé que nunca chorou, nunca reclamou. Até nisso sai à sua rica mãe que o pai ( que neste preciso momento vomita desalmadamente na casa de banho) quase que chama a ambulância quando tem azia.

 

 

"Como é que o rapaz não chora quando vomita, eu quase que morro" diz o pai deitado no sofá com ar de quem foi atropelado por um tanque de guerra.

 

O JM já está melhor mas anda a comer mal, continua a fazer sprints de gatinhas e recolher todo o pó e pêlos da Fiji pela casa, mas nota-se que a virose fez mossa. Puta virose que se eu te apanho amarro-te e ponho-te a ouvires Maria Leal até definhares até à morte... Estúpida!!!

Se a virose voltou-se para o pai... Aí é que o diabo entra mesmo nesta casa e não vem de cuecas, vem "incouro".

 

Senhor, dai-me forças, cif limão e paciência para aguentar este barco.

 

 

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Duas noites sem o Pineapple

por Pineapple com açúcar, em 10.10.16

Aos oito meses tive que me separar por duas noites do meu bébé.

 

Vim em viagem de negócios a Nova Iorque... Mintxiraaa, vim a uma acção de formação a Santa Maria, o que não é muito diferente de Nova Iorque, sejamos sinceros!! 

 

O JM ficou com o seu rico pai. 

 

A mãe é que não estava à espera desta partida nem tão cedo, mas o que tem de ser, tem muita força e não há que ser dramática. 

Pus logo em modus operandis a teoria da Positividade e comecei a enumerar as coisas que poderia pôr em prática, como dormir, ler um livro, jogar candy crush, nadar, papar as novelas todas com o comando na mão sem ter que pedir por todos os santinhos do céu para me mudar de canal... E assim sucessivamente.

 

No entanto, na prática as coisas não foram bem assim. A teoria da Positividade manteve-se, mas misturou-se com a teoria do "não consigo parar de pensar no que é que o rico filho anda a fazer", juntamente com a teoria do "será que me esqueci de dizer/separar/meter/lavar/arrumar alguma coisa?"

 

Vim para uma acção  de formação e basicamente o meu primeiro dia foi assim:

"Então Rita, reparei que tem estado muito atenta. Tem alguma coisa a dizer?

Quem eu?!? Ah, estava a pensar no tempo. É que isto virou e eu estou às voltas e voltas a pensar no que é que o pai vestiu o rapaz. Espero que ele não tenha calçado os peúgos dos elásticos apertados, é que aquilo, num instante, faz garrote nas perninhas e já estou a visualizar o meu rico filho num canto da sala a chorar com tantos formigueiros nas canelas e pézinhos... E será que as auxiliares vão dar conta disso? Não sei...

Também estava a pensar nas unhas super sónicas que ele tem... Em duas noites devem disparar. Deixo um ananás em casa e ao regressar encontro uma garça.

E a cera dos ouvidos?! O pai é inimigo de lhe colocar cotonetes, aquilo deve estar em forma de cascata. Pineapplefalls.

 

Aaaaahhh, a senhora formadora estava a perguntar-me sobre a matéria?! 

Acha que uma mãe com um filho de oito meses em casa, deixado aos cuidados do pai, sem avós, sem nada, vinha atinar alguma coisa para aqui?! 

Acha que uma mãe que pariu à oito meses consegue ter algum poder de concentração e raciocínio. Se eu já tinha um cérebro de nêspera antes de engravidar, agora passei a ter um de mirtilo... Murcho!

Acha?!

Aaaaagooora!!! Não façam contas comigo."

 

Resumindo, não li, não dormi as horas que esperava dormir, não vi televisão, não nadei, mas, que diabo, também não é assim tão maaau...ninguém morre de saudades, nem eu nem ele e uma mãe tem de ter este poder de encaixe, tanta coisa que vem por aí fora... 

 

Sabia que ele estava bem e que estava a ser muito bem cuidado. Afinal, para o pai, não há nada mais importante no mundo e mais além do que eu seu lindo Pineapple.

 

Para complicar mais um bocadinho não deixei nada separado. Não separei roupas, nem mochila para a escola, quis que fosse o pai a comandar as tropas, quis que ele sentisse o peso da responsabilidade. A  única coisa que fiz, sem ele saber, foi colocar as melhores roupas a fazer pandã por cima. Sabia que ele iria pegar na primeira coisa que visse. Quando viu o resultado deve ter-se sentido super orgulhoso.

 

A verdade é que quando cheguei, depois de levar tantos beijos e abraços o senhor mini Pineapple só queria pai pai pai... 

 

Correu bem... Bem demais.

 

Fui me deitar de coração apertado, mas no dia a seguir ele já gargalhava para a sua mãe com todos os seus dentes... Três!

 

A viagem foi alegre e divertida, com muito sono, falta de concentração e boa comida à mistura.

Falamos de espíritos e lugares assombrados ao jantar para cada um ir dormir de luz acesa para o seu quarto e arregalar o olho ao mínimo som.

 

Um ponto muito positivo:

O pequeno almoço de hotel. É bom, é muito bom.

 

 

 

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 Fui comer um crumble de maçã ao Espaço em Cena e fiquei deliciada com o crumble, com as infusões, com o ambiente e com a decoração. Five stars!

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O Nascimento

por Pineapple com açúcar, em 25.04.16

Quando me vieram ver já estava a amanhecer.

 

"Bom dia. Então como se sente?"

 

Eu estava bem, mas já começava a sentir novamente as contrações, nada que se compare com a dor de quando dei entrada, mas como o momento da expulsão já se encontrava próximo, achei por bem avisar que já começava a sentir o downstairs.

 

"Não tem problema, vamos já dar um reforço da epidural."

 

Entretanto, a enfermeira super mega querida, que apesar de não estar fisicamente bem disposta foi um amor connosco, veio ver a quantas andávamos nós.

 

"Muito bem, já estamos com 8 cm de dilatação, para um primeiro filho está a correr tudo muito bem."

 

Até poderia ser mentira, poderia estar a ter um trabalho de parto lento, estar nervosa etc etc, mas ao ouvir estas palavras uma pessoa relaxa, tranquiliza-se, não entra em stress, em estados de ansiedade desmesurados e facilita-lhes o trabalho. 

 

Ainda por cima sentia que estava com sorte na equipa que me estava a atender. Via-se que tinham todos uma boa noite de sono em cima e um bom pequeno almoço na barriga.

 

Estavam bem dispostas, alegres e prestáveis e nem me lembro se tinham "suera" vestida ou não.

 

" Já conseguimos ver a cabecinha e lá para as oito e meia o João Maria já está cá fora."

 

Que bom, já estava quase.

 

De um momento para o outro o meu corpo começou a tremer desmesuradamente e não era frio porque estava com uns calores pelo corpo todo.

 

O pai que já tinha entrado em modo nervo miúdo dizia-me:

 

" Pára de tremer!!"

 

 "Achas mesmo que neste momento tenho controlo em alguma

coisa?!? 

 

Achas que eu ando a tremer só porque me apetece, à laia de peta?? 

 

Olha eu a tremer... Mentiraaaa, não estou. Oh eu a tremer outra vez. Ahaha, apanhado, não estou. Oh outra vez...brincadeirinha, não estou.

 

Não levas um beliscão aqui mesmo porque estou a reservar as minhas energias todas para o nascimento da criança, entendes??

 

Faz um esforço para não me enervares, vá lá. Pronto dá cá um beijinho, vá."

 

Estava na hora!! 

 

Lá para as 10 da manhã já deveria conhecer o meu bébé e a minha vida nunca mais seria igual.

 

Lembro-me que quando saí de casa parei por breves segundos à porta e ao olhar para ela pensei que a próxima vez que entrasse em casa teria um bébé nos braços e uma vida totalmente nova.

 

Lá fomos nós para a sala de partos. 

 

Para além dos tremores e da vontade de lançar o Gregory, estava bem, calma e a achar que o pior tinha passado, tudo porque as minhas amigas que tinham tido bébés um mês antes tinham dito que fizeram duas ou três forcinhas e pronto nasceram as crianças.

 

Comigo não haveria de ser muito diferente. Mas, foi.

 

Tudo a postos, duas enfermeiras, uma auxiliar, uma médica interna, um médico de óculos sentado, um pai com uma máquina fotográfica, uma go pro, um iPhone e uma carrada de nervos miudinhos. Esta é a imagem que tenho, não sei se é a verdadeira, mas é a que tenho.

 

 A enfermeira parteira pediu para fazer força. 

 

" Sim senhora." 

 

Fiz uma, fiz duas, fiz três...

 

" Não querida, mais força."

 

Mais???

 

Mais uma, mais duas, mais três.

 

" Querida, assim não chega. Não sente vontade de fazer força?"

 

" Não. Não sinto nada..."

 

E eu a fazer foooooooooorça sem sentir naaaaaaaada. Mais fooooooooorça sem continuar a sentir naaaaaada. Até que comecei a ver umas luzes brancas, tipo flashes.

 

 

Oh, luzes, sanefas de natal, gingó bells gingó bells.

 

Espera, acho que não é suposto ver isso e muito menos sentir uns formigueiros na cabeça.

 

"Senhoooora acho que vou desmaiar."

 

" Querida, é normal é normal, vá faça força. Tem de ser agora ou nunca." Em tom de "isto não é brincadeira".

 

A parteira pediu à outra enfermeira que desse uma ajuda. Ora a ajuda era nada mais nada menos que utilizar o peso do seu corpo sobre a minha barriga fazendo com que a criança descesse.

 

Não é pêra doce não, aliás é grotesco e nao estava a conseguir consentir aquela força toda em cima de mim. Só lhe pedia que parasse.

 

A sensação que tive foi que de um momento para o outro as expressões de toda a gente que estava na sala tinham-se alterado para " hi, isso tá lindo aqui. Belo trabalho tá aqui feito."

 

Foi aqui que eu pensei  "Ai, que é agora que me fino. Eu ou o rapaz ou os dois passamos desta para melhor." 

 

E pronto, veio uma força não sei de onde e ele nasceu.

 

Finalmente conheci-o, finalmente!!

 

Qualquer expectativa, qualquer pensamento, desejo ou sonho foi imediatamente superado.

 

Tudo o que não senti na gravidez senti naquele momento, no momento em que o puseram em cima de mim.

 

Apaixonei-me mil vezes num segundo.

 

Senti uma empatia imediata, uma vontade de o abraçar e nunca mais o largar.

 

Não conseguia acreditar que ele tinha estado na minha barriga durante 9 meses.

 

Nasceu com uns olhos enormes, com umas olheiras enormes e ficou a olhar para mim muito atento e calmo. Parecia que estava a ser avaliada, que me estudava os traços. Nem sei se conseguem ver alguma coisa, mas ele ficou ali quieto de olho muito arregalado a fazer beicinho.

 

Que momento!!!

 

Mais tarde senti uma culpa enorme por não ter gostado se estar grávida.

 

Como é que era possível não gostar de ter uma coisa tão mega maravilhosa dentro de mim, como?

 

Sentia uma culpa avassaladora porque não havia lugar mais seguro no mundo do que a minha barriga.

 

Agora havia um mundo todo a absorvê-lo um mundo onde eu não iria conseguir protegê-lo a cem por cento.

 

Ele já não era meu, era do mundo.

 

Que culpa... Ainda hoje quando penso nisso vêm me as lágrimas aos olhos.

 

Parei de tremer mas não consegui evitar o Gregory... Ups, desculpem senhoras, mas acho que não estava muito bem disposta. Ai muito se passa para se ter um filho.

 

O pai?

 

Tinha a certeza que o pai estava do meu lado esquerdo no momento da expulsão. Mas, quando olhei já não estava.

 

Olhei para todos na sala e estavam todos com ar calmo e sereno o que me fez depreender que o homem tinha simplesmente desaparecido e não ter dado um piripaque que o fizesse cair inanimado no chão.

 

Eu só pensei, " ai que pelintra, o rapaz nem 5 min de vida tem e já me desapareceu. Num instante foi comprar tabaco para nunca mais voltar."

 

Em menos de um minuto apareceu-me ele com duas bolas vermelhas no lugar dos olhos.

 

"Então homem onde estavas?"

 

"Fui ali para aquele canto chorar. Isto é muita emoção, é surreal. Eu preciso de ir lá  fora chorar o resto. Tenho muita coisa para por para fora."

 

Que pai fofo!!

 

 

Levaram o Little Pineapple para se vestir, pesar e medir.

 

 

Neste arraial todo em que estava anestesiada com tanta alegria, completamente alienada do que me rodeava, concentrada nele, naquela nica de gente, não dei conta que quem andava a terminar o serviço era a interna. 

 

Quando "botei" sentido é que ouvi a parteira a dar indicações de faz assim, faz assado. 

 

Levaram-me meia hora para quatro pontinhos, não senti rigorosamente nada. Nada.

 

Mas quando olhei para o relógio e vi o tempo a passar deduzi que me estivessem a fazer um tapete de arraiolos lá em baixo. Nem pensar que ia para exposição!!

 

De seguida oiço a auxiliar:

 

"Menina faltam os sapatinhos."

 

"Sapatinhos?"

 

"Sim, os sapatinhos para pôr por cima do fatinho, aqueles de lã. Não me diga que não trouxe os sapatinhos?!"

 

Sapatos, mas o rapaz não anda!! Tá lindo, o rapaz nem uma hora de vida tem e eu já ando a pôr o pé na argola.

 

" Ahhh os sapatos!! Ai com as pressas esqueci-me deles em casa."

 

Mentira... 

 

E pronto lá estava eu com um filho nos braços sem sapatos, mas super feliz. Tinha tudo corrido bem e ele estava cheio de saúde.

 

Que alegria, que alegria!!!

 

 

 

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Parto #2

por Pineapple com açúcar, em 17.04.16

Era oficial estava, realmente, em trabalho de parto.  

 

Não era invenção minha.

 

 

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 A senhora da "suera" indicou-me o quarto onde iria passar as passinhas do Algarve. 

 

Perguntei-lhe quando poderia levar a epidural e disse-me que era de imediato... Ahhh graças a Deus!!

 

Disseram-me muitas vezes que depois da epidural tudo seria mais fácil, acreditei, mas nunca pensei que fosse tão eficaz.

 

Lá veio a senhora da "pendural", uma senhora muito calada sem grandes expressões.

 

Eu também às duas da manhã não tenho grande expressão, mas perante a desgraça alheia ainda me comovo um bocadinho. 

 

A senhora da "suera" disse-me que ao levar a epidural não me poderia mexer de forma alguma. Nada, nada, nada. 

 

" Sim senhora." Disse eu com olhinhos de cãozinho abandonado. 

 

"Ok, senhora eu tou a ter uma contração, podemos esperar só um bocadinho?"

 

"Não querida, temos de nos despachar."

 

Ahhhh desgraçadas, demónios, vocês querem me por doidinha. Apetecia-me desmontar o cabo do soro e dar-lhe pelas pernas dizendo em tom compassado, eu-nao-tenho-a-culpa-do-rapaz-querer-nascer-às-tantas-da-manhãaaaa- Des-gra-ça-da (sempre a levar com o cabo).

 

É qualquer coisa como, olha, vou dar-te um pontapézinho na tomateira, mas não poderás mover uma palha. Isto para os senhores entenderem. 

 

Ou então, olha vamos passar com esta "contrapilha" (caterpillar) pelos pés mas não te podes mover.

 

Se calhar há uma explicação científica para as palavras de ordem desta noite serem " temos de nos despachar", mas não me explicaram qual era, por isso assumo que seja despachar só por despachar e também não era porque o rapaz estava quase a nascer, nem porque o serviço estava a abarrotar.

 

Eu, uma pobre de Cristo, só me concentrava nas benditas respirações que aprendi nas aulas de preparação para o parto e que exemplifiquei à minha colega e amiga de aulas mais tarde. Ao que ela respondeu-me com:

 

"Estas respirações não existem."

 

"Existem, existem, eu fiz" ( em tom de, Ah descarada!!)

 

 "Querida elas podem existir mas não foram estas que aprendemos."

 

Nunca atino nada, nunca dou uma pá caixa, louvado seja Deus. Paguei 300 euros para um curso onde se ensina a respirar e chega a hora H invento respirações, que por acaso foram mega eficazes. Pelo menos para o meu cérebro de minhoca foram.

 

Em relação ao curso, foram os 300 euros mais bem empregues, elas não têm a culpa de eu ter cérebro de minhoca, foram todas uns amores e muito muito prestáveis.

 

Agradeço toda a paciência e preocupação demonstrada.

 

O bom foi que entre o dar e o não dar, a contração passou e levei no intervalo da mesma.

 

A partir daí foi nosso senhor no céu e epidural na terra.

 

Foi tão bom tão bom que estive quase a chamar o rapaz de João Epidural em vez de João Maria. Quase quase...

 

Adormeci e só acordava com o pai a queixar-se.

 

Ora era porque tinha frio, ora porque tinha sono, ora porque tinha dor de costas...

Verdade seja dita, não custava nada meterem uma poltronazinha e uma mantinha para quem estivesse a acompanhar. É que não há nada. Uma cadeira e that's it.

 

A senhora da "suera temos de nos despachar" disse que a evolução do parto seria mais ou menos um centímetro por hora, logo iria ficar umas boas horitas até ele nascer. E sofrer o pai da criança até à hora H seria uma praga.

 

Perguntei à "suera temos de nos despachar" se o pai podia ir para casa e voltar de manhã.

 

" De manhã quando?"

 

" Tipo às 7, nós moramos aqui perto e qualquer coisa ele põe-se aqui"

 

" Às 7 não!! Se quiser sair depois só entra lá para as 9."

 

" oh mas ele pode nascer antes disso, não pode?" Perguntou o pai aflito.

 

"Pode."

 

E eu nesta altura devia ter me levantado desmontado os cabos do soro e outra vez pelas pernas a baixo, sempre no mesmo lado a dizer "laparoza-maldita-quem-é-que-o-vai-sofrer-toda-a-noite-logo-agora-que-estou-entregue-às -drogas."

 

Claro que ele não se arriscou a sair, se bem que insisti bastante alegando que ninguém o ia impedir de entrar. Mas ele nem pensar que nos deixou.

 

Ainda hoje aquela criatura olha para esta noite e acha que o grande mártir foi sem sombra de dúvida, ele. Tudo porque adormeci e ressonei por breves momentos, momentos estes que ele fez questão de os registar, filmando. E pronto, esta foi a noite em que eu adormeci estirada numa maca (apoteose do conforto) enquanto que ele passou a noite em claro numa cadeira de madeira em pleno mês de inverno. Trabalho de parto... O que é isso??

 

A senhora "da suera temos de nos despachar" desapareceu para nunca mais voltar.

 

Saliento que apesar de tudo a senhora foi sempre muito profissional, pouco afável mas muito profissional.

 

Mudança de turno e que mudança... Estão a ver o genérico dos Simpsons, a parte em que diz The Siiiiimpsons e aparece as nuvens e o sol a brilhar?? Foi assim com o novo turno.

( continua)

 

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O parto

por Pineapple com açúcar, em 14.04.16

Antes que recalque tudo, tenho de vos contar de como foi este maravilhoso acto de dar à luz.

 

Eu estava com umas cagunfas que nem vos conto, até porque as grávidas que conhecia já tinham todas os seus bébés nos braços, e eu era a única a ter pesadelos em fazer sair um ser de dentro de mim. Eu tinha, eu tive, um ser dentro de mim. Como é que isso é possível, como?!?

 

Das mil e uma discrições de partos e acreditem foram muitas, nenhum foi igual ao meu.

 

 

Há qualquer coisa neste dia que faz com que as mulheres mal apanham uma em vias de dar à luz, desbobinam, desbobinam, desbobinam todos os pormenores do seu dia de parto. Aliás, eu consigo me lembrar de mais detalhes de alguns partos de conhecidas minhas, por ouvir mil e quinhentas vezes, do que do meu.

 

Li a algures que as mulheres têm uma grande necessidade de falar sobre isso por ser uma experiência traumática e que o desbobinar é de certa forma uma terapia.

 

Falaram-me tanta vez no rolhão mucoso e no rompimento das águas que fiquei a espera deles para poder ir para o hospital...Nada disso.

 

O dia foi um dia estranho, dormi à tarde e sentia-me abatida e com umas dores um pouco estranhas, pensava que deveria estar a desenvolver alguma infecção urinária. 

 

Já estava de 38 semanas, mas não conseguia associar aquela indisposição ao trabalho de parto.

 

Acordei da minha sesta e de um momento para o outro comecei a sentir umas dores que pareciam cólicas, fiquei ainda a tentar decifrar se aquilo eram as famosas contrações até que... Mother fucker, son of a bitch, puta kio pari, Oh god... Esta merda dói. 

 

Desde que as senti de forma suave até à agressividade da coisa, deu tempo de tomar banho, vestir pijamas, pensava que ainda ia dar para dormir qualquer coisinha, preparar a mala com as últimas coisitas... E ainda deu para tirar umas últimas fotos de barrigona.

 

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Até que de um momento para o outro as contrações estavam exactamente cronometradas de dez em dez minutos. 

 

Quando disse que achava que estava a ter contrações o pai da criança já estava de pijamas deitado no sofá e disse:

 

" A sério?!? Eishh logo hoje que não dava jeito nenhum."

 

E eu disse:

 

"Oh homem não seja por isso, acho que tenho aqui o contacto da senhora Contração, que é 91 e tudo, ligo-lhe a dizer que aconteceu um imprevisto, que hoje não dava lá muito jeito. Mando beijinhos para a família e tudo."

 

O caso mudou de figura quando o pai viu que aquilo estava mesmo mesmo acontecer e quando passei a ter as contrações de cinco em cinco, já gritava para me despachar como se conseguisses tornar-te numa Rosa Mota com aquelas putas dores.

 

O meu medo era chegar ao hospital e não ter tempo para levar a "pendural". Não faço parte daquela quota de mulheres que querem o parto mais natural possível. Eu queria as drogas todas a que eu tinha direito e se pudesse tinha adquirido mesmo as ilícitas.

 

 

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Cheguei ao hospital à uma da manhã. Não estava a pensar em nada, em papéis, documentos, nada. Estava concentrada em controlar as putas dores, em fazer as famosas respirações. 

 

O pai foi impedido de entrar.

 

Quando entrei, estava tudo às escuras e vi ao fundo uma senhora de casaco de malha pelos ombros, a famosa "suéra" e as mãozinhas enroscadinhas com ar de quem saiu de um sofá quentinho, fazendo com a cabeça aquele acto de " Diga" sem esboçar uma palavra. 

 

Se eu estivesse mais sã, e a pensar como deve de ser tinha respondido.

 

"Wooo, eh mulher tudo bem?!?

Vinha saber se me queriam comprar umas rifas para ajudar o centro paroquial dos remédios. Acabou-se o Coração de Ouro e a Regra do Jogo e lembrei-me que vocês podiam estar à uma da manhã sem fazer nada no hospital!!!"

 

Mas, não, não consegui exercer esta chalaça é só disse:

 

 "Senhora, acho que estou em trabalho de parto." 

 

Com ar e em tom de, por favor, ajudem-me, estou nas vossas mãos e acho que vou passar desta para melhor nos próximos minutos.

 

Encaminhou-me para o quarto e preparou-me o CTG.

 

" Senhora pode esperar um bocadinho?? Estou a ter uma contração.

Não querida, temos de nos despachar."

 

Ah, ok, têm de se despachar para fazer aquela tarefa tão árdua chamada, fazer nenhum, visto estarem com o serviço a abarrotar. Sublinha-se que era a única no serviço, mas ela tinha de se despachar. 

 

Já estava com três centímetros. A senhora enfermeira disse para a outra que teria de ficar lá internada e eu só pensava:

 

O que?? Estavam a pensar em mandar-me embora, euuuuuu?!?!

 

É que nem de guindaste me tiravam dali com aquelas dores. Virava cachalote e fazia um arrojamento ali mesmo sem qualquer hipótese de me mandar embora.

 

( continua...)

 

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